A cultura do trigo, da família das gramíneas e pertencente ao gênero Triticum, é um dos mais antigos cereais da história. Há relatos de historiadores que desde 11 mil a.C o cereal já existia no Oriente Médio, vindo a se propagar inicialmente em direção à Europa no período neolítico.
No cenário atual, se trata de um dos principais cereais produzidos, juntamente com o milho e o arroz, fazendo parte da alimentação de praticamente toda a população mundial. É utilizado desde a produção de farinhas para panificação e produção de cervejas, até na alimentação animal. Sua versatilidade produtiva permitiu que cada vez mais o grão tivesse inúmeras finalidades, desafiando a agricultura mundial em aumentar a sua produção e qualidade.
No mundo, a União Europeia, China e Índia são atualmente os maiores produtores. Porém, o Brasil não fica atrás. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) na safra 21/22, alcançamos a produção de 7,7 milhões de toneladas, reforçando a importância produtiva brasileira no cenário mundial da cultura do trigo.
Os Estados do Rio Grande Sul e Paraná possuem a maior área plantada no país, além dos maiores volumes produzidos. Embora o Brasil ainda não seja autossuficiente no cultivo do trigo, estamos caminhando ativamente para isso com diversos contribuidores técnicos, como variedades genéticas mais resistentes às questões climáticas, pragas e doenças, além do uso racional de fertilizantes que vem contribuindo para o aumento da produtividade por hectare e na qualidade desse grão.
Vamos falar um pouco de adubação na cultura do trigo e sua importância?
Importância da adubação na cultura do trigo
O trigo, assim como as outras culturas, possui exigências nutricionais para que realize suas funções fisiológicas e, principalmente, alcance altas produtividades em tempos com tantos desafios produtivos. Inclusive, o atual uso de novas cultivares de trigo com maior teto produtivo passaram a exigir um incremento nutricional nas plantas.
Sabe-se que corretivos e fertilizantes representam atualmente grande parte dos custos de produção na cultura do trigo. Porém, estudos que vêm sendo realizados por instituições importantes, como a Embrapa, afirmam que esses insumos são os grandes responsáveis pelo incremento produtivo que se vêm obtendo, além do aumento da qualidade dos grãos.
Por isso, é fundamental que a tomada de decisão de qual fertilizante utilizar e quais nutrientes contemplarem deve ser feita de forma personalizada para sua lavoura.
Quando falamos de nutrientes, o nitrogênio é um do mais demandados pelas gramíneas no geral. Segundo Martins (2019), a cultura do trigo extrai em torno de 28 kg por tonelada de grãos produzidos e exporta cerca de 20 kg por tonelada.
Nitrogênio participa da fotossíntese e também na formação das proteínas que compõe os grãos de trigo, se tornando essencial para a cultura!
O nitrogênio não é único nutriente essencial para o trigo, temos dois outros importantes nutrientes que contribuem diretamente para as garantias de altas produtividades: o enxofre o boro.
Enxofre e a cultura do trigo
O enxofre (S) é um macronutriente secundário, ou seja, é essencial e requerido pelas plantas em elevadas quantidades, porém em menores quantidades que os macronutrientes primários, como o nitrogênio, fósforo e potássio. Sua importância é devida a participação em processos metabólicos importantes, na produção de proteínas e na fotossíntese, fazendo parte de coenzimas, como a ferredoxina, que é relacionada à fixação de nitrogênio. Além disso, o S contribui diretamente na qualidade da panificação e no valor final do produto.
Vamos conhecer outros benefícios?
Enxofre e o estresse abiótico
Muitos estudos têm apresentado novos atributos do S, principalmente na composição de algumas substâncias que são produzidas pelas plantas em momentos de forte estresse biótico, como ataque de pragas ou infestações de doenças, que afetam diretamente a produtividade. Segundo a pesquisadora Bloem (2015), o fornecimento adequado de enxofre, via adubação, acarreta maiores produções de cisteína, sulfeto de hidrogênio, glutationa e outros, que permitem que as plantas ativem mais rapidamente os seus mecanismos de defesa face à ataques bióticos.
Enxofre e o aumento da eficiência da adubação nitrogenada
O S e o N agem de forma sinérgica para as plantas, ou seja, a interação é positiva quando a presença do enxofre favorece a absorção do nitrogênio.
Isso acontece devido a algumas das maneiras em que o nitrogênio se torna disponível para as plantas, que é através da mineralização realizada pelos microrganismos presentes no solo do N (orgânico) e também por meio da fixação biológica de nitrogênio (FBN) provindo do ar, também realizada pelos microrganismos. De acordo com a literatura, o enxofre participa ativamente dessas reações químicas que realizam a FBN e na absorção do N pelas plantas.
Ou seja, vimos que o N é principal nutriente demandado pelas gramíneas, como é o caso da cultura do trigo. Além da importância de fornecê-lo, o aporte de adubação com enxofre favorecerá a absorção do N e contribuirá para a maior produtividade da lavoura.
Necessidade de enxofre
Pensando em todos estes benefícios, é importante que o S esteja disponível à planta durante todo seu ciclo. A média na literatura é de 10 a 30 kg/hectare a depender da sua análise de solo e da recomendação do(a) seu(a) agrônomo(a).
E o boro? Vamos entender um pouco mais sobre este outro nutriente tão importante.
Boro e a cultura do trigo
O boro (B), diferentemente do enxofre, é um micronutriente, ou seja, demandado em menores quantidades, mas de importância macro para as plantas. O B é demandado durante todo o ciclo da cultura do trigo. Sem a sua presença, a planta não completa todas as suas atividades fisiológicas, o que compromete o seu desempenho produtivo.
Ele é considerado um nutriente fundamental à formação da parte estrutural das células, as paredes celulares e membranas, que protegem e conferem rigidez. A primeira deficiência percebida na falta do boro nas plantas é a redução do crescimento radicular, que é tão essencial para o arranque das culturas. Outro benefício dele é a direta contribuição no processo de enchimento de grãos.
Boro e a polinização
A polinização é uma etapa essencial na cultura do trigo. Como dito, o boro participa da integridade de membrana e da formação de parede celular. Por isso, é um elemento essencial no crescimento e na formação do tubo polínico, que é responsável por transportar os pólens até o ovário da planta de forma a garantir início da fecundação e, consequente, produção do grão de trigo.
Boro e a fertilidade
Além do tubo polínico, o boro está relacionado também com a viabilidade das anteras e dos grãos de pólen, além da atração dos insetos para a polinização. Dessa maneira, este micronutriente contribui diretamente para o aumento da fertilidade geral das plantas.
Lavouras bem nutridas com boro garantem aumento da polinização e redução da esterilidade das plantas de trigo.
O que o produtor deve se atentar é que o enxofre e o boro são nutrientes móveis, que podem vir a ser perdidos com as águas das chuvas acarretando deficiências na lavoura. Por isso, é essencial pensar um manejo com fertilizantes que os contemplem na sua composição e os tenham disponíveis durante todo o ciclo da cultura.
Boa safra!