Nos primeiros estágios de desenvolvimento, a cultura da soja (Glycine max) pode ser atacada por diversos patógenos que podem ocasionar grande redução do potencial produtivo da lavoura. Na região Sul do Brasil, em anos que registram elevadas precipitações pluviométricas durante a germinação e emergência da soja, principalmente em áreas com compactação de solo ou com drenagem limitada, um grupo de doenças que pode afetar as plantas ainda dependentes ou recém-libertadas das reservas nutricionais da semente é conhecido como damping-off ou “tombamento de plântulas”.
Devido ao potencial de prejudicar o estabelecimento da cultura e a densidade de plantas, a lavoura pode estar sujeita a grandes perdas de rendimento já no início do ciclo e, em cenários mais severos, necessitar a ressemeadura da cultura. Os principais agentes causais do damping-off na cultura da soja são: Phytophthora sojae, Pythium sp. e Rhizoctonia solani. Estes patógenos habitam o solo e são parasitas facultativos, aproveitando os nutrientes presentes nas plantas atacadas e em restos culturais para reprodução e aumento de inóculo. Em condições adversas ou durante a ausência da cultura, apresentam capacidade de sobrevivência no solo por meio de oósporos (Phytophthora e Pythium) ou pela formação de escleródios (Rhizoctonia).
O processo de infestação da doença
O início do quadro epidemiológico está associado a fatores ambientais que predispõem os tecidos da semente, ou das plântulas de soja, à infecção pelo agente patogênico. Dessa forma, a ocorrência da doença está relacionada à períodos com elevada precipitação pluvial e/ou locais da lavoura com solo compactado que dificultam a drenagem. A presença de alta umidade no solo, durante a germinação e emergência da soja, é considerada a principal condição climática que favorece a doença, por beneficiar a proliferação dos patógenos.
A temperatura também pode ser determinante para a ocorrência de damping-off, de modo que faixas mais amenas, durante os estágios iniciais da cultura, favorecem o ataque de Phytophthora e Pythium, enquanto temperaturas mais quentes beneficiam Rhizoctonia. Além disso, pode apresentar efeito na velocidade de desenvolvimento da plântula, prolongando o período de contato dos tecidos jovens com o solo, ficando mais vulneráveis à infecção pelos patógenos.
Principais sintomas
Nas situações em que o patógeno consegue atacar diretamente a semente, logo após o processo de embebição, ou as primeiras estruturas vegetais produzidas, como radícula, hipocótilo e cotilédones, serão observadas falhas no estande inicial da lavoura. Ao abrir o sulco na linha de semeadura é possível verificar o apodrecimento das sementes e das primeiras estruturas emitidas, caracterizando o damping-off de pré-emergência.
Sintoma de damping-off em pré-emergência causado por Pythium sp. (Imagem: Madalosso Pesquisas)
A infecção pode ocorrer também após a emergência das plântulas, causando o tombamento das mesmas e, consequentemente, a redução da população desejável na lavoura (damping-off de pós-emergência).
Sintoma de damping-off em pós-emergência causado por Rhizoctonia solani. (Imagem: Madalosso Pesquisas)
Os sintomas causados pelos oomicetos Phytophthora sojae e Pythium sp. são muito semelhantes. Normalmente, ocorre a descoloração do hipocótilo e da raiz, as folhas ficam amareladas e acabam murchando, e ocorre o estrangulamento na região entre a raiz e o hipocótilo, levando ao tombamento. As plântulas atacadas podem ser encontradas dispersas na linha de semeadura, formando pequenos grupos ou em reboleiras (locais onde ocorre acúmulo de água). O ataque de P. sojae pode ocorrer em qualquer estágio fenológico de desenvolvimento, no início do ciclo causando tombamento de plântulas e, em estágios posteriores, provocando podridão radicular.
A infecção por Rhizoctonia solani pode ocorrer antes da plântula emergir até aproximadamente 35 dias após a emergência. Os sintomas característicos são lesões em forma de estrias na lateral da raiz, de coloração castanho-avermelhada, que podem aumentar de tamanho e provocar podridão seca, comprometendo a sustentação da parte aérea. Dessa forma, em plântulas emergidas, ocorre o estrangulamento da haste ao nível do solo e, consequentemente, a murcha ou o tombamento.
Algumas plantas podem sobreviver temporariamente ao ataque deste patógeno, através da emissão de raízes adventícias acima da região afetada, porém acabam tombando ainda antes da floração. A morte é visualizada em forma de reboleiras que podem atingir grandes proporções.
Sintoma de damping-off em reboleira causado por Pythium sp. (Imagem: Madalosso Pesquisas)
Geralmente, as plântulas que sobrevivem ao ataque dos patógenos têm seu crescimento limitado e o potencial produtivo comprometido. A identificação correta dos patógenos que estão presentes na área é fundamental para a recomendação de medidas de controle.
Como evitar o damping-off
O manejo do solo visando a melhoria da estrutura física e a capacidade de drenagem é importante para evitar o acúmulo de água e desfavorecer a proliferação dos patógenos. Além disso, é importante evitar que a semeadura ocorra em períodos com elevada precipitação pluvial, ou de forma antecipada, evitando que temperaturas mais baixas prejudiquem a germinação e emergência.
A rotação de cultura pode ser uma ferramenta para reduzir a quantidade de inóculo, desde que realizada com espécies não hospedeiras. No entanto, deve-se ressaltar que as estruturas de resistência dos patógenos podem permanecer viáveis por vários anos. Outra medida a ser destacada é a utilização de sementes com alto vigor e em conjunto o tratamento com fungicidas. No caso de P. sojae é possível encontrar cultivares com resistência à algumas raças que causam podridão radicular.
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Texto escrito por Kelvin Soares Dalla Nora e Maurício Piccoli Bonatti, membros da AGR Jr. Consultoria Agronômica, Empresa Júnior do Curso de Agronomia da UFSM Campus Frederico Westphalen, sob a orientação da professora Gizelli Moiano de Paula.
Imagem de capa: Madalosso Pesquisas