A dessecação de plantas daninhas para preparar a área para um novo cultivo é um procedimento fundamental no sucesso de uma lavoura. Esse manejo com herbicida tem como objetivo eliminar essas invasoras já estabelecidas, evitando perdas a cultura em sucessão pela competição por água, luz e nutrientes, bem como facilitar a implantação da cultura.
São inúmeras as vantagens da dessecação de plantas daninhas, principalmente quando falamos em dessecação pré-semeadura. Um dos gargalos desse manejo é a chamada “semeadura no limpo”, onde a cultura de interesse econômico, em consequência da dessecação, é implantada em condições de semeadura adequadas, facilitando tanto a operação, quanto o estabelecimento, que, por não ter competição inicial com plantas daninhas, consegue expressar seu potencial no arranque inicial da cultura.
Estratégias para o manejo de dessecação
Uma das alternativas quando se trabalha com dessecação de plantas daninhas, é o uso de aplicações sequenciais de herbicidas, com um intervalo de tempo pré-determinado entre as aplicações. Essa técnica permite eliminar vários fluxos de emergência das plantas daninhas antes da emergência da cultura principal, permitindo um controle mais eficiente com a aplicação de herbicidas com diferentes princípios ativos, aumentando o espectro de controle das plantas daninhas e reduzindo casos de resistência a herbicidas.
Quando optar por uma aplicação sequencial?
Embora essa técnica apresente ampla vantagem no controle de plantas daninhas, há alguns pontos que devem ser analisados para garantir que é a melhor opção de manejo.
Por envolver mais de uma entrada de herbicidas na lavoura, se torna um manejo de alto investimento ao produtor, com herbicidas, maquinário e mão de obra. A aplicação sequencial exige um maior planejamento, onde é necessário identificar as plantas daninhas e posicionar os melhores herbicidas. Também é importante ter cuidado com a janela entre as aplicações, que podem sofrer interferência das condições climáticas adversas. Esse atraso pode comprometer a eficiência de controle ou até mesmo causar atrasos na semeadura, já que muitos dos herbicidas utilizados possuem período de carência para evitar fitotoxidade da cultura subsequente. Portanto, esse manejo é indicado onde ocorrem plantas em diferentes estádios de desenvolvimento na lavoura, sendo que plantas mais jovens costumam ser mais suscetíveis, e plantas maiores exigem uma maior atenção para ter um controle eficiente.
Espécies de difícil controle, ou que apresentem resistência a determinados herbicidas como a Buva (Conyza spp.) e o Caruru (Amaranthus spp.), também podem ser melhor controladas com aplicações sequenciais.
Também é comum que hajam muitos fluxos de emergência de plantas daninhas no ambiente produtivo, devido a um amplo banco de sementes que pode haver em algumas áreas. Nesses casos, as aplicações sequenciais também são uma boa alternativa para garantir que a lavoura permaneça limpa até a emergência da cultura de interesse. Chuvas logo após a aplicação também são um fator que pode reduzir a eficiência da aplicação, assim, uma aplicação sequencial seria uma alternativa cabível para o controle das plantas daninhas.
De maneira geral, esta técnica permite que plantas daninhas que sobraram na lavoura ou rebrotaram por motivo de resistência, difícil controle, fluxo de emergência ou falhas na primeira aplicação, sejam controladas nas aplicações sequenciais.
Como realizar a aplicação sequencial
O passo inicial é a identificação das espécies daninhas alvo e escolher os mecanismos de ação, que dependem do espectro de controle das características de cada herbicida. Para evitar a seleção de resistência é importante realizar a combinação de diferentes mecanismos de ação, indicando a não repetição de princípios ativos nas aplicações e a utilização de produtos de contato e sistêmicos, que além de prevenir o aparecimento de biótipos resistentes, também aumenta o espectro e a eficiência de ação. É essencial seguir as recomendações de cada fabricante, para evitar o antagonismo e a fitotoxicidade.
A primeira aplicação deve ser feita em um momento onde a maior parte das plantas daninhas estejam presentes, preferencialmente antes de atingirem um estágio de crescimento avançado. Posteriormente é necessário realizar o monitoramento da lavoura, observando os sintomas de controle, como sinais de necrose, morte e número de plantas que germinaram ou que sobreviveram. Já a segunda aplicação geralmente ocorre de 7 a 14 dias após a primeira, dependendo da velocidade de emergência de novas plantas daninhas e das condições climáticas, direcionando-se principalmente às plantas que emergiram ou não foram controladas na primeira aplicação.
Saflufenacil para controle de plantas daninhas
O saflufenacil é um herbicida de plantas de folha larga com ação de contato, pertencente ao grupo químico pirimidinadiona, que age como inibidor de protoporfirinogênio oxidase (PROTOX). O herbicida tem demonstrado alta eficiência em várias culturas, como soja, milho e algodão, controlando espécies como crotalária e buva. Pode ser aplicado em pré e pós-emergência, sendo mais indicada a segunda opção. Na dessecação para plantio direto, ele pode ser usado na primeira aplicação para o controle rápido. Em áreas com alta infestação, pode-se optar por uma aplicação sequencial, com intervalo de 7 a 10 dias, combinando-o com outro herbicida sistêmico como o glifosato para aumentar a eficácia.
Texto escrito por Caetano Rocha e Dyeferson dos Reis Rocha acadêmicos do curso de Agronomia da UFSM, campus Frederico Westphalen, membros do Programa de Educação Tutorial - PET Ciências Agrárias, sob acompanhamento do tutor, professor Dr. Claudir José Basso.