A dessecação é uma prática que envolve a aplicação de herbicida com ação de contato. A partir da aplicação, ele promove a rápida uniformização da planta para colheita. Essa prática tem o objetivo de acelerar o fim do ciclo reprodutivo da soja antecipando a colheita, geralmente em uma semana, permitindo a antecipação da semeadura subsequente.
Algumas regiões do Brasil possibilitam o cultivo de duas safras no mesmo ano agrícola, com a soja precoce e o milho e/ou algodão safrinha, têm a possibilidade de utilizar a prática da dessecação para semear a cultura em sucessão ainda dentro de uma boa janela de semeadura. Por isso, produtores que cultivam dentro do zoneamento recomendado para a região, como, por exemplo, no Mato Grosso, antecipam ao máximo a semeadura da soja quando a condição de umidade no solo favorece.
O intervalo de tempo entre a aplicação do herbicida e a colheita depende de fatores como o teor de umidade dos grãos no momento da aplicação, do tipo de produto utilizado e das condições climáticas após a aplicação. Geralmente, climas quentes e secos após a dessecação favorecem o adiantamento para a colheita.
Dois fatores importantes e que exigem a atenção por parte dos produtores são o estádio fenológico da cultura e as condições meteorológicas.
Estádio fenológico ideal para dessecar:
A dessecação pré-colheita da soja exige um momento ideal para sua realização, sendo o estádio R7.3 o recomendado, quando a planta entra em maturação fisiológica. Antecipar demais essa prática pode resultar em perdas significativas de produtividade e/ou qualidade das sementes. Logo, é importante e necessário compreender também sobre a fenologia da cultura.
Na tomada de decisão referente à quando iniciar a aplicação de herbicidas para dessecação, o principal ponto a ser avaliado são as vagens, escolhendo o momento ideal e conseguir reconhecer o estádio fenológico da soja.
R7.1 – Início a 50% de amarelecimento de legumes e vagens.
R7.2 – Entre 50 e 75% de vagens e legumes amarelecidos.
R7.3 – Mais de 75% de legumes e folhas amarelecidas.
R8.1 – Início a 50% de desfolha.
Figura 1. Estádios fenológicos da cultura da soja aptos para a prática de dessecação

Fonte: Thulio Mariotto
Outros aspectos a serem observados são: folhas mudando a coloração verde intenso para verde claro a amarelo e grãos desprendidos um do outro ao abrir a vagem. Tendo conhecimento disso, vale ressaltar a importância de aplicar herbicidas de contato a partir do estádio fenológico R7.3, quando mais de 75% dos grãos estão fisiologicamente maduros.
Estudos feitos no município de Jaboticaba/RS e no Laboratório de Produção e Tecnologia de Sementes da UFSM, Campus Frederico Westphalen/RS, na safra 2010/11, mostram que a aplicação de herbicida dessecante em R6 ocasiona perda de 35% na produtividade quando comparado à testemunha (sem aplicação). Em R7.1 a redução foi de 13% e em R7.3 não houve diferença significativa, demonstrando superioridade aos demais tratamentos e evidenciando ser o estádio fenológico ideal para a dessecação. Conforme Pelúzzio (2008), a redução da produtividade deve-se ao fato de que a planta pode ainda estar translocando fotoassimilados para semente no momento da dessecação. Se isso ocorrer, o processo de translocação é paralisado, gerando declínio de produtividade.
Impactos da má dessecação para a qualidade do grão:
O que o produtor precisa estar atento: se realizar a dessecação antes do estádio R7.3, pode ocorrer perdas significativas na produtividade por perda no PMS e na qualidade fisiológica da semente, tendo em vista que antes desse estágio ainda está ocorrendo o enchimento de grãos e as vagens não se encontram prontas para a colheita com bom rendimento de produção. Logo, o estádio recomendado para a dessecação é R7.3.
Outro ponto importante que o produtor deve estar atento é a condição climática pós dessecação da lavoura. Lavouras que foram dessecadas na pré-colheita não toleram excesso de chuva, podendo aumentar grãos ardidos e brotados. Ou seja, ao tomar a decisão de dessecar o produtor precisa atentar-se para a possível ocorrência de chuvas nos próximos quinze dias e analisar se realmente tem possibilidade de realizar a colheita dentro de uma janela que não danifique a produtividade final. Por isso, a frente de dessecação deve estar muito alinhada com a colheita.
Diante de todo o exposto, os maiores cuidados na dessecação pré-colheita da soja partem da escolha do momento de aplicação, para tanto, reconhecer o estádio fenológico que apresente menores índices de perdas e considerar as condições meteorológicas são pontos-chave para evitar danos causados pela má dessecação, a qual oportuniza o risco de reduzir drasticamente o rendimento da lavoura.
Texto escrito por Eduarda Meneghello Gheller e Ueslen Barth, acadêmicos do curso de Agronomia da UFSM campus Frederico Westphalen, membros do Programa de Educação Tutorial - PET Ciências Agrárias, sob acompanhamento do tutor, professor Dr. Claudir José Basso.
Referências
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