O azevém é uma gramínea anual, com metabolismo C3. Sua reprodução ocorre através de sementes, que podem germinar, emergir e se estabelecer em diversas condições ambientais. Esta espécie cresce de forma vigorosa, o que lhe confere alta capacidade competitiva com o trigo. Além disso, no sul do Brasil, o azevém é cultivado como forrageira ou cultura de cobertura do solo antes da semeadura do trigo, o que favorece sua ocorrência em altas densidades.
Impacto das interferências do azevém no trigo
O controle em estádios inadequados (plantas grandes) e a alta densidade de plantas são fatores que dificultam o manejo do azevém na dessecação. Após o trigo estabelecido, o elevado banco de sementes do solo origina fluxos germinativos do azevém, dificultando o controle e aumentando as perdas de produtividade em função das interferências causadas na cultura. É estimado que uma planta de azevém por metro quadrado pode reduzir a produtividade do trigo em 0,4%, e as perdas máximas podem superar os 80% (Fotos 1 e 2).
Foto 1: Cultura do trigo sem a utilização de herbicidas pré-emergentes infestado com azevém (Foto: Cristiano Piasecki)
Como o azevém tem sido manejado
Nas últimas décadas, o controle do azevém em dessecação tem sido realizado através da aplicação de herbicidas pós-emergentes, especialmente glifosato. Entretanto, sua aplicação generalizada selecionou populações resistentes, sendo o primeiro caso relatado no Rio Grande do Sul, em 2003. Atualmente, segundo dados da Embrapa, o azevém resistente ocupa cerca de 85% da área agrícola do RS. Para superar essa resistência, a mistura em tanque de herbicidas inibidores da enzima ACCase (graminicidas) com glyphosate tem sido utilizada. Em muitos casos, aplicações sequenciais com glufosinato de amônio ou diquat são necessárias para obter a máxima eficiência no controle na dessecação.
Após o estabelecimento do trigo, as opções de herbicidas para controlar o azevém são: clodinafope, iodosulfurom-metílico e pyroxsulam. Entretanto, a resistência a estes herbicidas tem sido reportada e, como consequência, a redução no controle do azevém (Fotos 1 e 2).
Foto 2: Cultura do trigo com controle ineficiente de azevém (Foto: Cristiano Piasecki)
Herbicidas pré-emergentes no controle de azevém
A aplicação de herbicidas para controlar azevém em pré-emergência do trigo foi baixa no RS até a safra 2021. Porém, novos registros de produtos para esta modalidade de aplicação deverão favorecer o aumento na área tratada. Herbicidas como o S-metolacloro, trifluralina e piroxasulfona estão registrados e apresentam excelente controle do azevém em pré-emergência.
Além disso, estes herbicidas apresentam controle sobre outras espécies de plantas daninhas, como por exemplo a buva, que podem variar de 40% a 70%. Dessa forma, a ação dos herbicidas pré-emergentes em questão favorece o manejo de amplo espectro de plantas em trigo, o que poderá beneficiar cultivos que sucedem o trigo, como a soja (Foto 3).
Foto 3: Efeito de herbicidas pré-emergentes controlando azevém (Foto: Cristiano Piasecki)
Pontos de atenção
A ação de herbicidas pré-emergentes ocorre durante o processo de germinação das sementes do azevém, quando estas são mais vulneráveis. É importante destacar a importância da presença de umidade no solo para melhorar a absorção dos herbicidas.
Além disso, a recomendação de doses e a modalidade de aplicação deve considerar o tipo de solo (argiloso ou arenoso), matéria orgânica no solo, presença de palha, previsão de ocorrência de chuva torrencial após a aplicação, dentre outros fatores.
A semeadura do trigo deve ser realizada no limpo (sem a presença de plantas daninhas) e com a máxima eficiência, de modo que as sementes não sejam depositadas sobre a superfície do solo. Isso irá reduzir o contato direto das plântulas de trigo com os herbicidas e minimizará riscos de fitotoxicidade na cultura.