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Uso de agentes biológicos no manejo de mofo-branco

Alguns fatores são imprescindíveis para uma redução da incidência do mofo-branco no campo, como medidas culturais que reduzam a quantidade de inóculo e dificultem a germinação dos escleródios e a dispersão dos ascósporos

O mofo-branco é causado pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum, sendo capaz de infectar mais de 400 espécies vegetais, com grande importância no Brasil em diversas culturas produtoras de grãos como soja, feijão, girassol e canola.


É uma doença de difícil manejo, considerando a ausência de cultivares resistentes, a ampla gama de hospedeiros alternativos e a capacidade de produzir abundante quantidade de escleródios, suas estruturas de sobrevivência no solo, que permitem a manutenção de inóculo primário de uma safra para a outra.


Os escleródios podem germinar emitindo micélio, ou germinação carpogênica, dependendo das condições ambientais. A germinação carpogênica é a principal forma reprodutiva, a qual consiste na formação de apotécios pelos escleródios, que são estruturas em forma de taça. Nelas são produzidos os ascósporos, esporos sexuados do patógeno, principal forma de contaminação das plantas. Os apotécios (Figura 1) produzem ascósporos por um período de cinco a 10 dias, estimando-se que sejam gerados mais de dois milhões de ascósporos nesse período. Ao alcançar a parte aérea das plantas de soja, os ascósporos necessitam de temperatura amena (15 °C a 25 °C) e período de molhamento foliar de duas a quatro horas, colonizando preferencialmente flores senescentes.


Figura 1: Apotécios de Sclerotinia sclerotiorum


Os sintomas da doença se tornam mais visíveis quando o micélio branco e cotonoso surge, geralmente com esclerócio, que é o sinal mais evidente de plantas infectadas com S. sclerotiorum (Figura 2). À medida que a doença progride, produzindo micélio em abundância, formam-se novos escleródios que irão recompor a fonte primária de inóculo para os cultivos dos anos subsequentes.


Figura 2: Sintoma de mofo-branco em soja


O sucesso no manejo químico muitas vezes é dificultado, pois a eficiência dos fungicidas deve coincidir com as condições favoráveis para que ocorra a infecção, ou seja, o florescimento da soja, a liberação dos ascósporos e as condições climáticas favoráveis. No entanto, nas cultivares de soja com hábito de crescimento indeterminado, condições ambientes favoráveis por longos períodos no ciclo da cultura e a presença do patógeno fazem com que as aplicações de fungicidas sejam pouco eficientes.


Somado a isso, os fungicidas possuem movimento limitado (sistematicidade) na planta, e nenhum se move para baixo na planta, ou seja, via floema. A falta de capacidade de se mover, provavelmente contribui para a baixa eficácia no controle do mofo-branco.

Considerando essas dificuldades com os fungicidas químicos, o uso de agentes biológicos vem demonstrando sucesso no manejo da doença. Dentre os agentes de controle biológico com potencial de controle de S. sclerotiorum estudados, encontram-se as bactérias e fungos. No Brasil, prevalecem como agentes de biocontrole para S. sclerotiorum o uso de Trichodermas e Bacillus, sendo utilizados no manejo integrado do mofo branco.


No manejo biológico do mofo-branco é importante ter o entendimento que a origem da doença, na maioria das vezes, se inicia pela germinação dos escleródios. Nesse sentido, o manejo da doença deve ser direcionado na redução de escleródios e em técnicas para dificultar a germinação deles. Além disso, no manejo, também é importante dispor esforços para minimizar a dispersão de ascósporos, bem como buscar inviabilizá-los.


Algumas estratégias são importantes no processo de redução de escleródios, como a rotação de culturas e plantas de cobertura, considerando o emprego de culturas não hospedeiras de S. sclerotiorum, como milho, trigo, aveia, cevada. Em campos com histórico crescente de mofo branco, é imprescindível quebrar o ciclo patógeno inserindo por cultivos subsequentes espécies não hospedeiras. O uso de plantio direto também é uma estratégia, embora mais escleródios sejam encontrados perto da superfície do solo nesse sistema, eles se degradam mais rapidamente em solos de plantio direto em comparação com solos arados. Outro fator importante é com uso de plantas de cobertura, sendo necessário se fazer uma inspeção da qualidade das sementes, para evitar sementes contaminadas com escleródios, como pode ser observado na Figura 3, sementes de nabo forrageiro contaminadas.


Figura 3: Sementes de nabo forrageiro contaminadas com escleródios de S. sclerotiorum


Quanto as estratégias de dificultar a germinação dos escleródios e a dispersão de ascósporos, a população de plantas e o espaçamento adequado são fatores que podem contribuir para evitar o microclima favorável a germinação dos escleródios. Outro fator é evitar a irrigação excessiva, principalmente durante os períodos críticos de infecção, desde a floração precoce (R1) até o desenvolvimento inicial da vagem (R3). Para evitar a dispersão de ascósporos, o uso de cobertura vegetal na cultura anterior, com abundância de palhada na cultura da soja, constitui uma camada física, dificultando a dispersão dos ascósporos (Figura 4).


Figura 4: Abundância de planta de cobertura, constitui-se uma barreira física para dispersão dos ascósporos


O monitoramento da lavoura é fundamental, pois permite entendimento do avanço da doença, e, com isso, ações preventivas de manejos que possam ser tomadas. Já o controle biológico é uma estratégia que, quando bem utilizada, apresenta ótimos resultados. Para o controle deste patógeno por meio de antagonistas, a forma preferencial de aplicação é a pulverização na fase inicial de desenvolvimento da cultura, considerando como alvo biológico os escleródios, os quais são colonizados e degradados (Figura 5).


Contudo, diversos agricultores também realizam a aplicação dos antagonistas após a colheita da cultura, gerando um efeito positivo na redução de inóculo inicial para a próxima cultura. O uso de agentes biológicos no sistema também é uma ótima alternativa, independentemente de serem hospedeiras, pois reduzem a fonte de inóculo no decorrer do tempo, e, consequente, a redução da incidência da doença em culturas hospedeiras.


Figura 5: Escleródios contaminados por Trichoderma


Para a eficiência do controle biológico, a aplicação em condições ambientais com umidade é necessária para o estabelecimento dos agentes biológicos. Nesse sentido, a presença de palhada tem favorecido o estabelecimento dos biológicos, e, com isso, melhorando sua eficiência. Além disso, a associação de plantas de cobertura, mix de espécies, em cultura anterior a da soja, também tem favorecido a biota dos solos e a melhoria do biocontrole.


Em suma, o manejo do mofo-branco requer a adoção conjunta de medidas culturais, uso de fungicidas e de agentes de controle biológico, com o objetivo de prevenir e controlar a doenças nas plantas.


As medidas culturais devem focar na redução da quantidade de inóculo, dificultar a germinação dos escleródios e a dispersão dos ascósporos, fatores imprescindíveis para uma redução da incidência do mofo branco no campo.


O controle biológico deve preconizar agentes biológico posicionados de forma que atinjam o alvo biológico, no caso os escleródios, bem como em condições ambientais que permitam sua estabilização.


O controle químico, por mais que possua limitação de eficiência, deve ser mantido em condições de alta pressão da doença, e só pode ser substituído completamente após o uso continuo dos biológicos, da redução de inóculo inicial e da baixa incidência da doença.


Maiores informações sobre o manejo de mofo-branco podem ser obtidas, no capítulo 18 do livro "Bioinsumos na Cultura da Soja".


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Capa: Embrapa



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