A produção agrícola no Brasil vem crescendo ano a ano. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), para a safra de grãos 2022/23, a estimativa é de um crescimento com tendências de recorde em relação à área de cultivo e à produção. Isso também nos remete a pensar no incremento da utilização de defensivos agrícolas. Por isso, com a recente elevação nos preços dos produtos fitossanitários, é necessário a utilização de uma tecnologia de aplicação mais eficiente para evitar perdas por ineficiência na aplicação, sendo as pontas de pulverização componentes de extrema importância na eficiência de uma aplicação.
A qualidade em uma aplicação de produtos fitossanitários está associada às condições climáticas, culturais, pragas, doenças, plantas daninhas, produtos e ao equipamento utilizado. Cada vez mais é necessário buscar o melhor rendimento possível em uma aplicação, nesse sentido as pontas de pulverização são consideradas componentes primordiais de um pulverizador, já que são responsáveis por determinar a vazão e o espectro de gotas, além de definir a forma do jato emitido.
Afinal, ponta ou bico de pulverização?
Costumeiramente o termo “bico de pulverização” é utilizado como sendo sinônimo de “ponta de pulverização”, no entanto, são estruturas diferentes. O bico é todo o conjunto composto pela ponta, peneira, corpo e capa, que é fixo na barra de pulverização, por outro lado, a ponta corresponde a porção terminal do bico, sendo ela a responsável pela formação das gotas.
Como escolher a melhor ponta de pulverização?
Escolher a ponta de pulverização adequada para a aplicação e objetivo desejado é muito importante, uma vez que para cada aplicação de um produto fitossanitário, existe um propósito que dever ser buscado para se ter uma maior eficiência de controle.Por isso, temos de ser cada vez mais assertivos na escolha das ponteiras para cada tipo de aplicação, até porque hoje o mercado disponibiliza vários modelos como: jato leque plano, duplo leque, cone cheio, cone vazio, entre outras, cada uma com a sua funcionalidade.
Pontas leques com espectro misto das gotas, produzidas entre 2 e 4 bar de pressão, são adequadas para a aplicação de herbicidas pós-emergente sistêmico, fungicidas de contatos, inseticidas de contato e reguladores de crescimento. Já a ponta de cone cheio é desenvolvida especialmente para aplicações localizadas, mostrando-se eficaz quando utilizada em pós-emergente sistêmico, fungicidas e inseticidas de contatos. A ponta de cone vazio é excelente para aplicações de fungicidas e inseticidas, pode também ser utilizada com pulverizadores costais.
Aplicações de fungicidas no final de ciclo da soja, por exemplo, são as mais exigentes em relação à tecnologia de aplicação. Isto é devido à necessidade das gotas de atingirem o terço inferior da planta em um estádio fenológico no qual ela se encontra com um índice foliar muito alto. Nesse estádio é essencial que se tenha uma ponta que proporcione à gota uma boa penetração e uma eficaz cobertura do alvo, sendo utilizadas pontas que proporcionem gotas finas, que aumentam a cobertura do alvo. Essa preocupação com a ponta de pulverização na aplicação de fungicida se deve ao fato da baixa mobilidade dos fungicidas aplicados na parte aérea da planta, ou seja, a eficiência na aplicação de fungicidas está em cobrir bem o alvo, e isso só é possível com um tipo de ponta que tenha uma proporção maior de gotas finas em relação as grossas.
No caso da aplicação de herbicidas em pré-emergência, a utilização de pontas com gotas muito grossas é a melhor opção com a finalidade de obter um excelente desempenho e com ótimo controle de deriva. Já para aplicações de herbicida de contato, onde a cobertura precisa ser maior, é recomendada a utilização de gotas grossas a médias, desta forma é possível ter a cobertura adequada com diminuição da deriva.
Qual a relação entre pressão e tamanho de gota?
É fundamental ressaltar que, para uma mesma ponta, o tamanho das gotas irá diminuir à medida que a pressão aumenta (por exemplo, qualquer ponta produzirá gotas maiores a 2 bar de pressão do que a 4 bar), e que, para uma mesma pressão e tipo de ponta, o tamanho de gotas aumenta com o diâmetro de abertura da ponta.
A tecnologia de aplicação vem evoluindo cada vez mais e ao passar dos anos vem se mostrando fundamental para uma agricultura mais assertiva e eficiente com relação aos manejos e, consequentemente, mais sustentável. Pensando nisso, é essencial ter um equipamento que possa realizar essa pulverização com qualidade e que entregue bons resultados. Analisando o alto custo dos produtos a serem utilizados e os problemas que podem acarretar uma aplicação errada, a pulverização atualmente não permite margem para erros. É imprescindível para o sucesso da aplicação ter um equipamento bem calibrado e com ponteiras indicadas para cada pulverização.
Por fim, os aspectos a serem observados durante a escolha de uma ponta de pulverização em busca de uma boa aplicação são diversos e exigem cuidado, mas cada esforço vale a pena tendo em vista que a aplicação é um momento importante e que ditará muitas vezes o resultado de uma safra. Além disso, vale lembrar que a longevidade de uma ponta de pulverização definida pelo fabricante é realizada em laboratório com a utilização de água pura. Sabemos que no dia a dia em uma unidade de produção na calda de pulverização além da água, temos a adição de um ou mais produtos, adjuvantes, micronutrientes, dentre vários outros, o que pode mudar a viscosidade do líquido e diminuir a vida útil das pontas. Por isso, a calibração da vazão deve ser feita anualmente por técnicos, para avaliar se existe a necessidade de troca.
__________________________
Por Filipe Belchor Barcelos e Lucas de Mattos, acadêmicos do curso de Agronomia da UFSM, campus Frederico Westphalen, membros do Programa de Educação Tutorial (PET ) Ciências Agrárias, sob acompanhamento do tutor professor Dr. Claudir José Basso.
Imagem: reprodução