A soja é a principal cultura de grãos cultivada no Brasil e grande parte da sua produção é destinada à exportação, apresentando contribuição significativa para o fortalecimento da economia do país. Períodos de estiagem, como ocorrido na safra 21/22, e que vem acontecendo na safra 22/23, favorecem a ocorrência e o estabelecimento de diversas doenças na cultura da soja. Sendo assim, os produtores precisam estar atentos ao ciclo dessas doenças e aos fatores ambientais que favorecem o seu desenvolvimento, com o objetivo de definir as melhores medidas de controle.
A influência da estiagem no desenvolvimento de doenças na soja
Os fatores ambientais apresentam grande capacidade de modular o grau de predisposição da cultura ao aparecimento e desenvolvimento de doenças, podendo tanto impedir, quanto favorecer, o início do processo epidemiológico. A influência do ambiente pode acontecer de diferentes formas, no entanto, a temperatura e a umidade do ar e do solo são fatores bastante marcantes.
No decorrer do ciclo da soja podemos observar o surgimento de diversas doenças que atacam a cultura, como por exemplo a ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi), a mancha parda (Septoria glycines), o mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum), dentre outras. Porém, durante períodos de estiagem, estas doenças acabam não obtendo um ambiente favorável para seu desenvolvimento, como é o caso da ferrugem asiática e da mancha parda, que necessitam de um período mínimo de molhamento nas folhas, ou seja, é necessário haver água em abundância para estas doenças infectarem a planta.
Em contrapartida, existem algumas doenças que são favorecidas pela baixa umidade, como veremos a seguir:
Doenças favorecidas pela baixa umidade
- Oídio
O oídio, causado pelo fungo Microsphaera diffusa, é um fungo biotrófico e se alimenta da planta viva, realizando um parasitismo refreado. Seu micélio esbranquiçado se apresenta na cobertura da folha, impedindo também a fotossíntese das plantas. Para o estabelecimento desta doença é necessária uma temperatura na faixa de 18º a 24º C, e principalmente umidades baixas (menores que 30%).
- Podridão de carvão das raízes
Causada pelo fungo Macrophomina faseolina, manifesta-se de forma mais severa na cultura da soja em períodos com baixa disponibilidade de água no solo. Esse patógeno é habitante natural do solo e pode infectar as plantas desde o início do processo de germinação, quando a infecção ocorre na fase de plântula, observa-se o escurecimento da radícula.
Após o florescimento, a infecção resulta em clorose das folhas, evoluindo para a necrose, e permanecendo aderidas ao pecíolo na planta. As raízes apresentam coloração acinzentada causada pelo apodrecimento dos tecidos e, ao destacar a epiderme, pode-se encontrar estruturas negras e endurecidas, denominadas de microescleródios. A temperatura na qual o fungo é favorecido para a germinação do esporo é entre 28º a 35º C.
Formas de controle
Para realizarmos o controle dessas doenças fitopatológicas é necessário um conjunto de medidas, isso se dá devido a dificuldade de aplicação de fungicidas em períodos de estiagem, que por vezes podem causar danos de fitotoxidez à soja. Portanto, algumas medidas de controle são fundamentais para obter sucesso no controle das doenças em período de estiagem.
A principal medida para evitar o desenvolvimento da doença é o uso de cultivares resistentes, contudo o controle químico pelo uso de fungicidas pode ser empregado. Para tal, é preciso avaliar periodicamente a lavoura para diagnose da doença e nível de infecção. Recomenda-se o controle químico quando o nível de severidade da doença alcançar de 40% a 50% da área foliar da cultura, caso seja realizado em períodos anteriores a este nível, outra aplicação pode ser necessária, implicando em maior custo de produção.
A Macrophomina phaseolina é um fungo difícil de manejar, no entanto, a utilização de práticas que melhoram as condições físicas do solo e o uso de cultivares com maior tolerância à seca e/ou temperaturas altas, contribuem para a manutenção em níveis baixos de incidência e severidade da podridão de carvão.
A rotação de culturas, é fundamental para combater a Macrophomina phaseolina, doença que possui como forma de resistência os microescleródios, que sobrevivem durante o período de entressafra, este método serve também para quebrar ciclos de doenças patogênicas.
Como prevenir fitotoxidez de fungicidas em períodos estiagem
Com o engrossamento da camada de cera e aumento do número de tricomas/pelos, acarretados pelo déficit hídrico, a absorção dos fungicidas que necessitam ser metabolizados pela planta para serem funcionais é dificultada. Isso leva a uma maior concentração do produto na cobertura da folha, ocasionando muitas vezes fitotoxidez na cultura de interesse econômico.
Existem algumas técnicas que podem ser utilizadas para prevenir a fitotoxidez e, consequentemente, aumentar a eficiência dos defensivos, a fim de proteger a lavoura de soja contra fungos que atacam a cultura em períodos de estiagem. Podemos citar a realização da aplicação noturna e o aumento da vazão de água, que pode fazer com que a porcentagem de produto seja maior na cutícula da folha. Outra alternativa é a utilização de produtos que reduzem o estresse oxidativo, como o mancozeb, extratos de algas e aminoácidos.
Por fim, é possível entender que trabalhar com uma cultura de alto valor de mercado não é uma tarefa fácil, pois além de carecer de conhecimentos técnicos sobre os processos fisiológicos da cultura, enfrentaremos intempéries climáticas, que dificultam o cultivo e o manejo, desencadeando ainda pragas e doenças prejudiciais à produtividade.
_____________________
Texto escrito por Andrieli Cenci Agatti e Pedro Rockenbach, membros da AGR Jr. Consultoria Agronômica, Empresa Júnior do Curso de Agronomia da UFSM Campus Frederico Westphalen, sob a orientação da professora Gizelli Moiano de Paula.
Imagem de capa: Madalosso Pesquisas
Referências
ALMEIDA, A. M. R. et al. Macrophomina phaseolina em soja. Londrina: Embrapa Soja, 2014. 55p. (Embrapa Soja. Documentos, 346). Disponível em: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/989352/1/Doc.346OL.pdf. Acesso em: 30 dez. 2022.
CONAB. COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO. Soja Conjuntura Semanal 05.12 a 09.12.2022 Brasília: Companhia Nacional de Abastecimento. 2022. Disponível em: https://www.conab.gov.br/busca?searchword=exporta%C3%A7%C3%A3o%20de%20soja&searchphrase=all. Acesso em: 30 dez. 2022.
SEIXAS. C.D.S et al.. Oído. In: SEIXAS, C. D. S et al. Doenças da Soja. Disponível em: https://www.embrapa.br/agencia-de-informacao-tecnologica/cultivos/soja/producao/doencas-da-soja. Acesso em: 30 dez. 2022.
FERRARI, E.; PAZ, A. da; SILVA, A. C. da. Déficit hídrico no metabolismo da soja em semeaduras antecipadas no Mato Grosso. Revista Nativa Pesquisas Agrárias e Ambientais, Sinop, v.03, n.01, p.67-77, jan./mar. 2015.
ALMEIDA, A. M. R. et al. Doenças da soja. In: KIMATI, H.; AMORIM, L.; REZENDE, J. A. M.; BERGAMIN FILHO, A.; CAMARGO, L. E. A. (ed.). Manual de fitopatologia: doenças das plantas cultivadas. 4. ed. São Paulo: Agronômica Ceres, 2005. 631-638 p.
AMORIM, L.; REZENDE, J. A. M.; BERGAMIN FILHO, A. Manual de fitopatologia: Princípios e Conceitos. 5. Ed. São Paulo: Agronômica Ceres, 2018. v.1 573 p.
ALMEIDA A M. R. et al. Macrophomina phaseolina em soja. Embrapa Soja Londrina, PR 2014. 1. ed. Disponível em: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/989352/1/Doc.346OL.pdf
CASTRO, R. L. A. ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS CAUSADAS POR FUNGICIDAS EM SOJA INFECTADA NATURALMENTE POR OÍDIO. Universidade Federal de Uberlândia, Programa de Pós-Graduação em Agronomia, 105p, 2016