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Ácaros na soja: danos característicos e principais cuidados

Em anos mais secos e com altas temperaturas, como vistos nas últimas safras no Rio Grande do Sul, os ácaros têm se tornado pragas cada vez mais presentes na cultura da soja

O alto potencial produtivo da cultura da soja é limitado por um conjunto de fatores, como déficit hídrico, competição com plantas daninhas, deficiências nutricionais e o ataque de pragas e doenças que podem ser minimizados a partir de um correto monitoramento, identificação e controle.


Em anos mais secos e com altas temperaturas, como ocorrido nas últimas safras, os ácaros têm se tornado pragas cada vez mais presentes na cultura da soja, merecendo grande atenção. Em estudos realizados na safra 2011/12, na região central do Rio Grande do Sul, em áreas com e sem controle de ácaros, constatou-se que dependendo da cultivar utilizada as perdas ocasionadas por estes podem chegar a 20 sacas por hectare.¹


Espécies de ácaros mais comuns na cultura

As espécies mais comuns que atacam a cultura da soja são o ácaro-rajado (Tetranychus urticae), o ácaro verde (Mononychellus planki) e o ácaro branco (Polyphagotarsonemus latus) ².


  • Ácaro-rajado (Tetranychus urticae)

Os adultos possuem coloração esverdeada com duas manchas escuras laterais. Possuem por característica a formação de colônias na face inferior (abaxial) das folhas, repletas de teias e fios sedosos, produzidos pelas fêmeas onde colocam seus ovos.


  • Ácaro verde (Mononychellus planki)

Caracteriza-se por possuir coloração verde intenso e quatro pares de patas dianteiras com coloração amarelo-ouro. Diferentemente do ácaro rajado, o ácaro verde realiza a deposição de ovos diretamente sobre a superfície da folha junto à nervura, principalmente sobre a face inferior das folhas ³.


  • Ácaro branco (Polyphagotarsonemus latus)

Caracteriza-se por apresentar coloração branco a verde-claro e assim como o ácaro verde, não produz teias e fios sedosos, sendo praticamente invisível a olho nu. Realiza a deposição de ovos diretamente sobre a face inferior da folha ao longo de sua extensão.


Condições favoráveis para o seu desenvolvimento

A baixa umidade relativa do ar e as altas temperaturas favorecem o desenvolvimento de ácaros (tetraniquídeos), devido a estimulação da alimentação e ser um fator que aumenta o número de gerações por unidade de tempo, ou seja, os insetos se reproduzem mais, além de prejudicar a atividade de agentes que proporcionam o controle biológico de ácaros (FLECHTMANN, 1972 apud FIORIN, 2014).


Conforme a Embrapa Soja (2012), “a ocorrência de estiagem é o principal fator que favorece o ataque de ácaros (Tetranychidae) na soja”. Condições estas que vêm ocorrendo de forma mais ou menos intensa nas últimas safras e na atual safra. Por outro lado, “o ácaro-branco, ao contrário dos demais, é favorecido por períodos chuvosos” (ROGGIA apud REVISTA CULTIVAR, 2020).


Além disso, em períodos de estiagem, a incidência de doenças fúngicas nas plantas é baixa, melhorando o estabelecimento dos ácaros nas plantas hospedeiras. Portanto, em regiões que possuem uma alta umidade relativa, como áreas de várzea, podemos não encontrar ácaros, devido a criação de um microclima desfavorável para a procriação destes e um clima favorável aos inimigos naturais. Contudo, condições de baixa umidade relativa do ar e do solo e temperaturas superiores a 27 ºC favorecem o seu desenvolvimento.


A precipitação é um fator natural que ajuda no controle dos ácaros, pois, a chuva pode estar lavando os ácaros e seus ovos das folhas, causando a morte por afogamento, como também a morte pelo golpe das gotas da chuva (PEDRO NETO, 2009 apud CARVALHO, et al., 2018, p. 11).


Danos causados

Os ácaros têm por característica o ataque em reboleira. Eles possuem o aparelho bucal raspador/sugador dotado de estiletes e quando atacam as plantas realizam a remoção do conteúdo celular exsudado.


Os primeiros sintomas do ataque de ácaros é a coloração esbranquiçada ou prateada dos folíolos atacados, pois estes ocasionam redução e esvaziamento do conteúdo celular. Com o passar dos dias as folhas adotam a coloração amarelada, e posteriormente apresentam a coloração marrom devido a oxidação dos pontos que foram atacados.


Quando a população de ácaros é elevada, podemos perceber manchas necróticas e, posteriormente, a queda das folhas, sendo facilmente confundidas por queda devido ao estresse hídrico. Em períodos de déficit hídrico, os ácaros realizam um maior número de picadas, lesando um maior número de células para atender às suas necessidades.


Após as folhas serem acometidas, perdem a sua principal função: a produção de fotoassimilados. Isso devido ao rompimento das células e a perda do conteúdo celular, causando a redução da área fotossintética das plantas, fazendo com que uma menor quantidade de fotoassimilados sejam assimilados e fixados no grão, consequentemente causando redução do peso de grão e perdas de qualidade e produtividade.


Além disso, as lesões causadas pelo ataque de ácaros aumentam a taxa de transpiração pela planta, havendo um déficit hídrico e bloqueio da síntese de amido.


Figura 1: Danos causados pelo ácaro rajado na cultura da soja. (Imagem: Alfredo Henrique Suptiz)


Como fazer a identificação no campo?


O monitoramento e a identificação de ácaros na cultura da soja devem ser realizados semanalmente para que sejamos assertivos na tomada de decisão e momento de controle.


Para sua identificação a campo, além da visualização dos sintomas, pode-se visualizar com o auxílio de uma lupa a face inferior da folha, visando identificar a presença de ácaros e outras pragas que possam estar presentes, considerando que são insetos de difícil visualização a olho nu.


Em caso de não ter lupa, podemos expor a face inferior da folha voltada ao sol, fazendo com que os ácaros sejam sensibilizados pela incidência de raios solares e se movam sobre a superfície da folha, assim facilitando a visualização. Com exceção do ácaro branco, os demais podem ser vistos a olho nu sem necessidade de lupa.


Cuidados que devem ser tomados

O uso inadequado de inseticidas e fungicidas podem aumentar a intensidade de ataque de ácaros. Determinados inseticidas não seletivos, como os piretróides, induzem a dispersão dos ácaros na lavoura e, consequentemente, aumentam a área atacada, já os inseticidas neonicotinoides podem estimular a reprodução dos tetraniquídeos (ROGGIA apud REVISTA CULTIVAR, 2020). Portanto, não se recomenda uso sequencial de piretróides para o controle de outras pragas na lavoura de soja em uma condição de clima seco e quente, porque isso pode levar ao desequilíbrio e aumento da pressão de ácaros.


Controle

Para o controle da praga devemos utilizar produtos devidamente registrados para a soja. Uma das alternativas de controle é trabalhar com o manejo integrado de pragas, devendo ter cuidado com o uso excessivo de inseticidas como piretroides e neonicotinoides, como vimos anteriormente.




Texto escrito por Alfredo Henrique Suptiz e Igor Streit, acadêmicos do curso de Agronomia da UFSM campus Frederico Westphalen, membros do Programa de Educação Tutorial (PET) Ciências Agrárias, sob acompanhamento do tutor professor Dr. Claudir José Basso.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

¹ (ARNEMANN et al., 2018 apud MARTIN et al., 2022).

² (GOMES, 2021).

³ (ROGGIA apud REVISTA CULTIVAR, 2020).


CONAB. Boletim da Safra de Grãos. 4° Levantamento - Safra 2022/2023. Disponível em: https://www.conab.gov.br/info-agro/safras/graos/boletim-da-safra-de-graos. Acesso em: 21 jan. 2023.

DE CARVALHO, N. L.; DE BARCELLOS, A. L.; BUBANS, V. E. Ácaros fitófagos em plantas cultivadas e os fatores que interferem em sua dinâmica populacional. Revista Técnico-Científica do IFSC, v. 2, n. 7, p. 04-17, 2018.

EMBRAPA SOJA. Manejo de Ácaros-Praga em Soja. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/54312/1/folder-acaros-soja-COAMO.pdf. Acesso em: 24 jan. 2023

FIORIN, R. A. Ácaros na cultura de Soja: Genótipo, Danos e Tamanho de Amostra. 2014. 15 f. Lindolfo Storck. Tese (Área de Concentração em Produção Vegetal)- Programa de Pós-graduação em Agronomia Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2014.

GOMES, D. R. S. Ácaros. Embrapa Soja. Disponível em: https://www.embrapa.br/en/agencia-de-informacao-tecnologica/cultivos/soja/producao/manejo-integrado-de-pragas/pragas/pragas-que-atacam-folhas/acaros#:~:text=As%20esp%C3%A9cies%20mais%20comuns%20em,em%20anos%20secos%2C%20formando%20teias. Acesso em: 21 jan. 2023.

MARTIN, T. N.; PIRES, J. L. F.; VEY, R. T. Tecnologias Aplicadas para o Manejo Rentável e Eficiente da Cultura da Soja. Santa Maria. editora GR, 2022. Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/Amanda-Martins-11/publication/363885268_Fertilidade_do_solo_e_nutricao_para_cultura_da_soja/links/63335a0913096c2907d43c95/Fertilidade-do-solo-e-nutricao-para-cultura-da-soja.pdf#page=228. Acesso em: 21 jan. 2023.

ROGGIA, S. (Embrapa Soja). Manejo integrado e ações preventivas contra ácaros em soja. edição 191 da Cultivar Grandes Culturas. Disponível em: https://revistacultivar.com.br/artigos/manejo-integrado-e-acoes-preventivas-contra-acaros



                                                                         

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