Os percevejos constituem um grupo de insetos com grande variedade de hábitos alimentares, podendo provocar danos significativos na produtividade das culturas de grãos, como a soja. Existem diversos grupos de percevejos, que são classificados pelo seu hábito alimentar, sendo separados em três grandes grupos principais: predadores, hematófagos e os fitófagos.
Responsáveis pelos danos causados em plantas de soja, os percevejos fitófagos possuem como principal característica o seu aparelho bucal sugador, tendo a capacidade de absorver os nutrientes dos grãos. Os principais percevejos que causam danos na soja são: percevejo marrom (Euschistus heros), verde-pequeno (Piezodorus guildinii) e verde (Nezara viridula).
Quando os percevejos atacam a cultura da soja?
Os percevejos podem se fazer presentes na cultura da soja desde o início do seu período vegetativo. Porém, começam a causar sérios danos à cultura no período de maior incidência, que está no final do período de enchimento das vagens (R4) e início do enchimento de grãos (R5). Portanto, é nesse momento que há um maior prejuízo na cultura em questão, por conseguinte, os percevejos atingem o seu pico populacional no estágio R7, período em que a planta está no início da maturação fisiológica.
Apesar de serem encontrados desde os primeiros estádios das plantas, será a partir da fase reprodutiva (R3 - Início da formação das vagens) que vão ser potencializados os danos desse inseto, acarretando perda de produtividade da lavoura e na qualidade dos grãos.
Danos dos percevejos na soja
Na cultura da soja, o ataque de percevejos pode causar danos diretos como: abortamento de vagens e grãos, diminuição do tamanho, da massa e do teor de óleo dos grãos, e a redução do potencial de germinação e vigor de sementes, assim relacionado ao enfraquecimento ou até mesmo a morte do embrião.
Os danos indiretos consistem na transmissão de doenças fúngicas que o percevejo vai infectar a planta através de seu aparelho bucal, e a indução de um distúrbio denominado de “soja louca”, na qual a principal característica é a retenção de folhas verdes pelas plantas no final do ciclo, acarretando certa dificuldade na colheita e em perdas na produtividade.
(Figura 1. Danos de percevejos em grãos de soja
Fonte: Revista Cultivar. Foto: Jerson Guedes)
Na Figura 1 é possível identificar as lesões causadas nos grãos da soja pelos percevejos quando comparados aos grãos normais, isso a partir de seus aparelhos sugadores, demonstrando o comprometimento à sanidade da cultura.
Ciclo biológico do percevejo
No decorrer do desenvolvimento do seu ciclo, os percevejos passam por três fases: ovo, ninfa e adulta. A fase de ninfa é composta de cinco estádios (ínstares), a partir do terceiro ínstar que os danos são causados na cultura da soja. Já na fase adulta, é o momento que trará maior prejuízo para a soja, nesse contexto, é possível a visualização de uma imagem que represente tal ciclo na figura 2.
(Figura 2. Ciclo de desenvolvimento do percevejo-marrom (E. heros).
Fonte: Elevagro.)
Principais espécies de percevejo
Existem várias espécies de percevejos, porém, destacam-se três na cultura da soja: o percevejo-verde (Nezara viridula), o percevejo-verde-pequeno (Piezodorus guildinii) e o percevejo-marrom (Euschistus heros).
Percevejo-verde: possui manchas brancas na borda do escutelo (o dorso do inseto). O inseto adulto tem coloração verde, como o nome indica (Figura 3).
- Características da oviposição: os ovos são depositados na parte inferior das folhas da soja com uma formação como um favo de mel com 50 a 100 ovos, possuindo coloração amarelada no início e adquirindo coloração rosada com manchas vermelhas próximo à eclosão.
Figura 3. Representação do Percevejo-verde
Foto: EMBRAPA
Fonte: Agro Sabendo
Percevejo-verde-pequeno: é uma espécie pequena de percevejo com cerca de 10 mm de comprimento, que na fase adulta apresenta coloração verde-claro (Figura 4).
- Características da oviposição: suas posturas são bem características, com fileiras duplas de ovos escuros, feitas sobre as vagens e raramente sobre as folhas com números de ovos variando entre 13 a 32.
Figura 4. Representação do Percevejo-verde-pequeno
Foto: EMBRAPA
Fonte: Agro Sabendo
Percevejo-marrom: O adulto possui uma coloração marrom-escuro com dois prolongamentos laterais do protórax (segmento mais anterior ao tórax dos insetos) em forma de espinhos pontiagudos. Possui uma mancha branca na extremidade do escutelo (placa triangular situada no dorso) em forma de meia lua (Figura 5)
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- Características da oviposição: os ovos são depositados em pequenas massas, normalmente com 6 a 15 ovos dispostos em duas ou três fileiras.
Figura 5. Representação do Percevejo-marrom
Foto: EMBRAPA
Fonte: Agro Sabendo
Uma visão geral sobre o assunto
Os percevejos causam danos à soja pela redução da produtividade devido à queda prematura de vagens ou formação de grãos chochos, reduzindo o poder germinativo, vigor das sementes e o teor de óleo. Além disso, ao sugarem a seiva injetam uma toxina que provoca a retenção das folhas da soja, a chamada soja louca.
Portanto, os danos ocorrem na fase reprodutiva da soja, a partir da fase de formação das vagens até o final do desenvolvimento das sementes (R3 - início da formação das vagens a R7 - início da maturação).
Monitoramento e medidas de controle
Para adotar medidas de controle eficientes, é necessário o monitoramento das lavouras, fazendo o uso de pano de batida. A vistoria na lavoura deve ser feita, no mínimo, uma vez por semana, possuindo um nível de controle recomendado para a produção de grãos de 2 percevejos/metro linear, já para a produção de sementes de 1 percevejo/metro linear.- Eliminação das plantas daninhas que podem servir de abrigo para esses insetos no período de safra e entressafra;
- Controle químico com inseticidas de contato na dessecação e o Tratamento de Sementes Industrial (TSI) a base de neonicotinóides, ferramenta essa que se apresenta de maneira eficiente contra insetos sugadores;
- O controle biológico pode se tornar uma medida em algumas regiões, com o uso de agentes biológicos. Têm-se exemplos de parasitóides que atacam ovos de diversas espécies de percevejos, como os Telenomus podisi (Ahsmead) e Trissolcus basalis (Wollaston).
- Para o controle químico, quando constatado o nível de controle, recomenda-se a utilização de produtos organofosforados, neonicotinóides e piretróides. É importante consultar o Engenheiro Agrônomo responsável para obter recomendações específicas para a área.
- Eliminação das plantas daninhas que podem servir de abrigo para esses insetos no período de safra e entressafra;
Nesse contexto, para minimizar as perdas de produtividade causadas pelo ataque de percevejos em lavouras de soja, deve ser realizado o monitoramento constante da lavoura desde o início da fase vegetativa, intensificando-o no período reprodutivo, momento em que os danos são causados.
Para um manejo eficiente, deve ser adotado o pano de batida para realizar o levantamento da população e realizar o Manejo Integrado de Pragas, considerando os níveis de controle recomendados.
Por Diones Hünther e Márlon Ribeiro Feldens, acadêmicos do curso de Agronomia da UFSM campus Frederico Westphalen, membros da empresa júnior AGR Jr. Consultoria Agronômica, sob acompanhamento da orientadora professora Dra. Gizelli Moiano de Paula.
Foto de capa:Embrapa
Referências:
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