Devido a crescente necessidade de elevar a produção de alimentos em todo o mundo, a realização de duas safras por ano agrícola tem ocorrido com maior frequência nos últimos anos, objetivando produtividades relevantes e maior retorno financeiro na propriedade.
Para que essa dinâmica ocorra, possibilitando a semeadura das culturas na janela de tempo adequada, e com as melhores condições de radiação solar e temperatura, a dessecação pré-colheita da soja se faz necessária em função dos seus benefícios.
Benefícios:
- Antecipação da colheita da soja, contribuindo com a janela de semeadura da cultura subsequente (“safrinha”);
- Uniformização da lavoura, reduzindo a variabilidade na maturação entre os grãos;
- Controle de plantas daninhas da área dessecada.
Para que de fato essa prática tenha eficácia, é necessário ficar atento a alguns detalhes relacionados à aplicação, como listaremos a seguir.
Quando dessecar?
O principal ponto a ser observado na realização da dessecação pré-colheita, é o momento adequado para aplicação. Isso porque, aplicações antecipadas podem causar perdas na produtividade e redução do vigor das sementes, enquanto a aplicação atrasada foge do objetivo da dessecação, apresentando um resultado nada significativo ao esperado.
O início do processo de maturação fisiológica da planta ocorre no estádio fenológico R7 de desenvolvimento, quando o grão ainda depende fisiologicamente da planta. A maturação das sementes inicia no momento da fertilização do óvulo e termina com o acúmulo máximo de matéria seca, sendo a maturidade fisiológica, o estádio que apresenta aumento de germinação, vigor e matéria seca.
Por isso, a dessecação deve ser feita a partir do momento em que a semente atinge seu ponto máximo de maturidade fisiológica. Dessa forma, considera-se um momento ideal para realizar a dessecação quando a lavoura de soja estiver com 76% das folhas e vagens amarelas e com os grãos entre 50% e 54% de umidade, mais especificamente, no estádio R7.3 (Maturidade fisiológica: acima de 75% das folhas e vagens amarelas), momento este em que ocorre maior acúmulo de matéria seca e mais de 98% dos grãos estão desligados da vagem.
Além do estádio recomendado para a dessecação, existem cuidados a serem observados em relação ao tempo. O excesso de chuva e o atraso da colheita podem prejudicar a etapa e ocasionar perdas de grãos, ficando susceptíveis à ocorrência de abertura de vagens e até mesmo a germinação da soja dentro das vagens, principalmente em casos com umidade significativa na lavoura.
Quais produtos utilizar na dessecação da soja?
A dessecação da lavoura de soja consiste na aplicação de herbicidas, predominantemente da classe dos herbicidas não seletivos que possuem amplo espectro de ação. Embora existam diversos herbicidas no mercado, recomenda-se sempre utilizar produtos registrados.
Um herbicida bastante utilizado para essa prática de manejo foi o Paraquat (inibidor do fotossistema I), no entanto, sua utilização foi proibida a partir de 2020 devido aos potenciais riscos à saúde decorrentes do seu uso e manipulação. Atualmente, como os principais produtos recomendados para tal finalidade podemos citar o Diquat, que apresenta como mecanismo de ação a inibição da fotossíntese no fotossistema I, por competir com o NADP+ como aceptor de elétrons; Glufosinato de Amônio (exceto para tecnologias tolerantes, como Liberty Link, Enlist e Conkesta) que é um herbicida de contato, ou seja, não é translocado no interior da planta e atua na inibição da enzima glutamina sintetase que resulta no acúmulo de amônio no interior da planta, gerando toxidez. Há também a utilização de Saflufenacil que é um herbicida de contato que inibe a enzima Protox, afetando a rota de síntese de clorofila das plantas.
Vale ressaltar a importância de consultar um Engenheiro Agrônomo para a recomendação mais adequada do produto, da dose correta e do melhor manejo a ser utilizado para dessecação da lavoura, já que esta prática também objetiva o controle de plantas daninhas presentes na área.
A utilização de adjuvante à base de óleo mineral ou vegetal pode ser uma alternativa para realizar a quebra de lipídios que compõem a cutícula e a membrana celular, facilitando a absorção do produto e aumentando sua fixação na folha, diminuindo perdas por evaporação ou lavagem pela chuva. Sendo assim, o uso de adjuvantes pode aumentar a eficiência do herbicida utilizado para a dessecação.
Devemos nos atentar também ao período de carência, que varia de acordo com cada produto comercial. Via de regra, deve-se respeitar em torno de 10 dias após a aplicação antes de realizar a colheita. Ao se tratar de campos para produção de sementes de soja, todos os cuidados devem ser redobrados para que não afetem os atributos fisiológicos desejáveis das sementes, como vigor e germinação.
Texto elaborado por Máicon Luiz Kilpp e Sônia Rafaela da Costa Bueno, membros da AGR Jr. Consultoria Agronômica, Empresa Júnior do Curso de Agronomia da UFSM Campus Frederico Westphalen, sob a orientação da professora Dra. Gizelli Moiano de Paula.
Imagem de capa: Reprodução/Leonardo Furlani
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