O período entre a colheita da cultura de verão e a implantação de uma nova cultura de outono/inverno é denominado de entressafra ou, mais recentemente, de vazio outonal. Ele pode variar de 60 a 90 dias, dependendo do sistema de produção adotado em cada unidade de produção.
No Sistema Plantio Direto, a manutenção e/ou a sustentabilidade do sistema de produção passa necessariamente por estratégias que mantenham ou melhorem as propriedades físicas, químicas ou biológicas do solo. A implantação de uma cobertura de solo na entressafra é importante como estratégia para a ciclagem de nutrientes e o aporte de alguns nutrientes para a cultura em sucessão, além da proteção física e estruturação do solo.
Benefícios da utilização das plantas de cobertura
Com o fim da colheita da soja, a palhada resultante, que fica na superfície do solo, entrega ao sistema mais ou menos 50Kg/ha de nitrogênio. Devido a sua dinâmica, esse nitrogênio pode ser facilmente perdido se não houver uma cobertura do solo fazendo a ciclagem dele. Além disso, o próprio potássio acumulado na palha retorna rapidamente para o solo e precisa ser absorvido e mantido na superfície do solo.
Por isso, fica clara a importância de plantas de cobertura de solo com objetivo de ciclagem desses nutrientes. Além disso, a palhada deixada pela soja é ineficiente para uma boa proteção física do solo pela quantidade deixada na superfície, bem como pela sua rápida decomposição. Logo, uma das alternativas encontradas é a cobertura do solo com plantas que possam melhorar a estruturação do solo, aumentar a supressão de plantas daninhas e aumentar o aporte de alguns nutrientes importantes para a cultura em sucessão e não hospedeira de pragas e doenças.
Dado a isso, as plantas de cobertura são espécies cultivadas visando a melhoria do ambiente de produção, possuem diversos benefícios:
- Estimulam a microbiota do solo, e a ciclagem de nutrientes;
- Incorporaram matéria orgânica no sistema;
- Ajudam na supressão de plantas daninhas;
- Reduzem os processos erosivos, pois protegem a superfície do solo; e
- Aumentam a capacidade de armazenamento e infiltração de água no solo, já que essa palhada reduz as perdas de água por evaporação e minimiza as variações de temperatura na superfície do solo, o que favorece a atividade biológica.
Além disso, plantas de cobertura podem ser usadas como ferramentas para um maior aporte de alguns nutrientes para a cultura em sucessão, como é o caso do nabo forrageiro, que aumenta o aporte de nitrogênio no trigo cultivado em sucessão. As plantas de cobertura de solo podem ser trabalhadas isoladamente ou em conjunto com outras espécies, caracterizando o mix de culturas.
Escolha das plantas de cobertura
Não existe uma espécie de planta de cobertura que se adeque a toda e qualquer condição. Para a tomada de decisão, é necessário fazer um diagnóstico adequado de cada situação e entender o que se quer com essas plantas de cobertura.
Dessa forma, existem características que devemos buscar na hora de escolher uma cultura para cobertura de solo, tais como: fácil estabelecimento, crescimento rápido, boa cobertura do solo, apresentar sistema radicular vigoroso e não ser hospedeira preferencial de doenças, pragas e nematoides. Todas essas características citadas acima são difíceis de encontrar em uma única espécie vegetal, nesse caso, podemos adotar a utilização de um mix de plantas.
Quando realizamos a associação de plantas com diferentes características desejadas, alcançamos o bom funcionamento do sistema. De maneira que, a combinação de gramíneas, crucíferas e/ou leguminosas, proporcionam maior interação entre raízes, já a ciclagem e disponibilização de nutrientes irá depender de quais culturas estão sendo trabalhados no Mix.
As misturas são interessantes pois essas plantas possuem capacidades diferentes de extração de nutrientes e de exploração do solo pelo seu sistema radicular. Logo, quando o objetivo é um aporte maior de nutrientes para a cultua em sucessão, devemos priorizar plantas de cobertura que se decompõem rapidamente após o seu manejo. Por outro lado, se o objetivo for a proteção física do solo, quanto mais tempo a palhada dessa cobertura permanecer sobre a superfície do solo, melhor. Por isso que a mistura dessas duas espécies pode ser interessante sobre esses aspectos.
Portanto, nabo, capim-sudão, trigo-mourisco e milheto são exemplos de algumas culturas que podem ser utilizadas de forma isolada ou em mix de plantas, sendo que com o consórcio é possível explorar os benefícios que cada planta possui.
Conclusão
As safras 21/22 e 22/23 foram exemplos da importância de se ter um solo bem estruturado e com aumento na sua capacidade de infiltração e armazenamento de água disponível às plantas. Portanto, manter o solo coberto o ano todo é imprescindível para minimizar as perdas e garantir a lucratividade do sistema.
Texto escrito por Lucas de Mattos e Thaysla Vezaro Wiedemann, acadêmicos do curso de Agronomia da UFSM, campus Frederico Westphalen, membros do Programa de Educação Tutorial – PET Ciências Agrárias, sob acompanhamento do tutor, professor Dr. Claudir José Basso.
Imagem de capa: Marina Junges