No momento que antecede a safra de trigo, alguns cuidados se tornam necessários na implantação da cultura, a fim de garantir o melhor cenário para o seu estabelecimento. Em função das áreas acompanhadas na safra anterior, um manejo importante, e pouco explorado, ganha destaque: o manejo prévio de áreas onde há incidência de mal-do-pé do trigo.
O mal-do-pé do trigo é causado pelo fungo Gaeumannomyces graminis var. tritici, que está bem adaptado a solos com pH em torno de 5,5 e regiões com precipitação acima de 450 mm. Esse fungo, presente em todas as regiões do Rio Grande do Sul, se manifesta na fase reprodutiva da cultura, onde geralmente ocorre acúmulo de água, e as folhas de plantas infectadas começam a perder a coloração verde. Com o avanço da infecção, as plantas se tornam pardas, chegando até a morrer quando são severamente afetadas.
Os sintomas acontecem em reboleiras ou em faixas, sendo facilmente identificados nas raízes de plantas arrancadas, onde apenas raízes mais próximas a coroa permanecem aderidas e apresentam coloração preta, já as raízes primeiras são deterioradas pelo fungo (Figura 1).
A multiplicidade de hospedeiros do fungo (azevém, centeio, sorgo, triticale, trigo, arroz, braquiária, aveia, capins) dificulta o manejo, pois há sempre incentivo para a sobrevivência no patógeno. Contudo, dentre as técnicas de manejo, a rotação de culturas ainda se destaca, indicando-se o uso de plantas não hospedeiras durante no mínimo dois anos, dentre elas: aveia branca, ervilhaca, serradela, canola, tremoço e nabo forrageiro.
Uma alternativa de manejo, visando potencializar a ação de biocontrole incentivada pela rotação, é uso de antagonistas naturais no solo. Bactérias, do gênero Bacillus e Pseudomonas, e fungos, do gênero Trichoderma, atuam liberando compostos antimicrobianos no solo, que afetam o desenvolvimento do fungo no solo, além de competirem nas raízes das plantas, ocupando portas de entrada na planta que seriam locais de colonização para a doença.
Além disso, também existem algumas alternativas biológicas visando o equilíbrio do solo em busca da supressividade.Nesse caso, há um controle natural de patógenos via antibiose (Figura 2), parasitismos, competição, predação e/ou indução de resistência. No tratamento de solo e de sementes, podemos usar tanto promotores de crescimento, quanto agentes de biocontrole, como Bacillus subtillis, Bacillus pumilus, Pseudomonas fluorescens, Bacillus amyloliquefaciens, Trichoderma asperellum, Trichoderma harzianum, entre outros. Esses manejos permitem que, além dos modos de ação baseados em biocontrole, a promoção de crescimento estimule o desenvolvimento vegetal, tornando a planta menos sensível ao ataque do patógeno.
Para manejo de parte aérea, temos microrganismos que atuam tanto com ação antibiótica, quanto como colonizadores via biofilme, em especial Bacillus subtillis, Bacillus pumillus, Bacillus amyloliquefaciens, Bacillus firmus, Bacillus licheniformis, Bacillus velezensis, além dos fungos do gênero Trichoderma.
Além disso, a nutrição adequada das plantas é determinante na tolerância a alguns patógenos. Plantas bem nutridas, principalmente com nutrientes constituintes de estruturas (cálcio, magnésio, silício, potássio, boro, cobre, nitrogênio e enxofre), tendem a tolerar melhor ataques de patógenos, em especial os de solo.
Assim como em muitas culturas, o manejo eficiente do mal-do-pé no trigo é resultado de um conjunto de práticas agrícolas, que visa reduzir a interferência do patógeno tanto na planta, quanto no ambiente, atingindo um equilíbrio ambiental que auxilie no biocontrole do patógeno.
Imagem de capa: Marcelo Madalosso/Madalosso Pesquisa