A cultura do trigo (Triticum spp.) é uma das mais cultivadas no mundo, sendo o terceiro grão mais produzido, com estimativas para a safra 2023 de acordo com a Conab (2023), de 789 milhões de toneladas, com incremento de 1,24% da produção se comparado a safra 2022. A Conab também ressalta que o Paraná e Rio Grande do Sul concentram a maior parte da produção de trigo, sendo responsáveis por cerca de 86% da produção brasileira. Mesmo com uma estimativa de área semeada de trigo menor que a do último ano, a expectativa de produção é maior.
O Brasil, por diversos motivos, não está entre um dos países que mais produz trigo no mundo. Por mais que exista uma grande região produtora do grão no país, por fatores climáticos, existem complicações em vários momentos do desenvolvimento da cultura. Apesar disso, a triticultura vem sendo uma renda extra para produtores do Sul do Brasil, devido ao desenvolvimento do melhoramento genético e às estratégias de manejo cada vez mais eficazes.
Considerando vincular a produtividade com a lucratividade, a redução de alguns aspectos que limitam o desenvolvimento da cultura torna-se fundamentais para a expressão do potencial produtivo. Um dos fatores que afetam o desenvolvimento do trigo e a produtividade final de grãos é a infestação de doenças durante o ciclo de produção, que, em grande maioria, são causadas por fungos, embora enfermidades causadas por vírus e bactérias também causem danos graves. Sendo assim, o monitoramento é de extrema importância para o sucesso no manejo e na produtividade final da lavoura.
As manchas foliares têm sido apontadas como as principais doenças na cultura do trigo. Entre elas, podemos destacar a Mancha amarela (Drechslera tritici-repentis), Mancha das Glumas (Septoria nodorum), Mancha Marrom (Cochliobolus sativus) e a Mancha Salpicada (Septoria tritici).
Sintoma e controle
- MANCHA AMARELA (Drechslera tritici-repentis): é a principal mancha foliar encontrada nas lavouras de trigo no Sul do Brasil. Para essa doença, “as principais fontes de inóculo são as sementes infectadas, os restos culturais e as plantas de azevém, hospedeiro alternativo, presentes na lavoura ou próximas a ela” (REIS, et al., 2011).
Sintoma: os sintomas iniciais podem ser observados nas folhas de trigo, tendo manchas inicialmente em pequenos pontos escuros com halos amarelados, que se expandem para manchas ovais ou em forma de diamante. Na medida em que coalescem, resultam em grandes áreas foliares necrosadas.
Controle: como sua disseminação é de diversas maneiras, recomenda-se a utilização de rotação com culturas não suscetíveis a esse patógeno, como ervilhaca, nabo forrageiro, colza, linho, entre outros. Aconselha-se o uso de sementes sadias ou do tratamento de semente com a mistura iprodione + thiram e guazatina. De acordo com Forcelini (2013), “a aplicação curativa de fungicidas tem ação limitada sobre a expansão da lesão, visto que este processo é mediado pela produção de toxinas. O controle parcial deste componente da epidemia só é possível com fungicidas triazóis aplicados nos primeiros dias após a infecção.” Ou seja, novamente ressalta-se a importância do monitoramento e aplicação do fungicida no início dos aparecimentos dos primeiros sintomas.
- MANCHAS DAS GLUMAS (Septoria nodorum): essa doença também é conhecida por mancha da folha, septoriose do nó e mancha do nó. Tem predominância em áreas de plantio direto, pois sobrevive em restos culturais e monocultura, além da capacidade do fungo em sobreviver em sementes infectadas. Os danos podem causar perdas de 30% a 60% no rendimento de grãos.
Sintoma: os primeiros sintomas são de manchas pequenas cloróticas, que surgem nas folhas inferiores. Após se expandirem, coalescem com outras manchas e causam morte da folha. Quando a doença ataca os nós, eles escurecem, ficam quase negros, podendo haver estrangulamento completo dos nós que se quebram facilmente. Portanto, quando o fungo ataca esse local, as perdas podem ser mais elevadas no rendimento de grãos.
Controle: por ter sua sobrevivência em restos culturais, a principal estratégia de controle é a rotação de cultura com espécies não hospedeiras, além de utilizar sementes sadias e/ou com tratamento de semente com fungicidas (iprodione+thiram, triadimenol e guazatina), cultivares resistentes, e em parte aérea com triazóis sistêmicos, como o propiconazole e tebuconazole.
Para Lau et al. (2020), “fungicidas dos grupos dos triazóis e estrobilurinas são indicados para controle. Entretanto, deve-se evitar o uso de estrobilurinas isoladamente, pois existem relatos de isolados com menor sensibilidade”.
- MANCHA MARROM (Cochliobolus sativus): essa doença possui ocorrência esporádica e ocorre em regiões tritícolas com temperaturas mais elevadas. As principais fontes de inóculo são as sementes infectadas e restos culturais colonizados pelo fungo, que permanecem na superfície do solo em sistema de semeadura direta e monocultura.
Sintoma: os principais sintomas são observados nas folhas, com pequenas manchas necróticas, produzindo lesão de centro pardo-escuro e bordo arredondado. Geralmente as lesões são circundadas por um halo amarelo. Em grãos infectados, pode-se observar o sintoma de “ponta preta”.
Controle: as principais práticas eficazes de controle são o tratamento de semente com fungicida; a rotação de cultura com espécies não suscetíveis, fazendo com que reduza o inóculo presente em restos culturais infectados; a época da semeadura e a resistência genética. Para o controle de manchas foliares em trigo, as estratégias de manejo são essenciais, com o objetivo de manter a população dos patógenos abaixo do limiar de dano econômico.
- MANCHA SALPICADA: (Septoria tritici): é a doença secundária no cultivo do trigo no Brasil, sua ocorrência se dá em regiões mais frias. Em anos com forte pressão de doenças, pode ocorrer a diminuição da produtividade da cultura de 35% a 50%. O inóculo inicial ocorre através de ascósporos dispersos pelo ar, através de sementes infectadas e em restos culturais.
Sintoma: os sintomas iniciais são manifestados em folhas inferiores, com pequenas manchas irregulares entre as nervuras foliares de cor marrom avermelhada. Com o desenvolvimento da doença, passa a se tornar acinzentada, com o aumento no tamanho das lesões se expandindo por toda folha, tendo pequenas pontuações escuras no centro da mancha.
Controle: a principal forma de controle, visando eliminar o inóculo presente nos restos culturais, é a rotação de cultura com espécies não hospedeiras. Vale ressaltar também a importância do uso de cultivar resistente e tratamento de sementes com fungicidas (iprodione+thiram, triadimenol e guazatina). As recomendações para essa mancha foliar são as mesmas utilizadas no controle da mancha da gluma, pois ainda não existem variedades resistentes.
Sendo assim, fica evidente que a utilização de sementes de boa qualidade, tratamentos de semente, rotação de cultura e a intervenção precoce com fungicida no surgimento dos primeiros sintomas são estratégias importantes para um bom manejo de doenças na cultura do trigo.
Por: Grazieli Greth Sperling e Pedro Rockenbach, acadêmicos do curso de Agronomia da UFSM, campus Frederico Westphalen, membros do Programa de Educação Tutorial – PET Ciências Agrárias, sob acompanhamento do tutor, professor Dr. Claudir José Basso.
Imagem capa: Pedro Bonini
REFERÊNCIAS
CONAB, Análise mensal Trigo, abril de 2023, conab.gov.br, 1-7, abril 2023.
CONAB, Mercado impulsiona produção de trigo que atinge novo recorde com mais de 9 milhões de toneladas, conab.gov.br, dezembro 2022.
DOUGLAS, L. et al., EMBRAPA. Principais doenças do trigo no sul do Brasil: diagnóstico e manejo. Passo Fundo, 2020.
KIMATI, H. et al. MANUAL DE FITOPATOLOGIA: Volume 2: Doenças das Plantas Cultivadas. São Paulo: Editora Agronômica Ceres Ltda, 1997.
KUHNEM, Paulo. et al. Guia Prático para Identificação no Campo Trigo Doenças. Passo Fundo: Biotrigo Genética, 2021.
RANZI, C., FORCELINI A., C. Ciência Rural, Santa Maria, v.43, n.9, p.1576-1581, set, 2013.
REIS, E.M. & CASA, R.T. Doenças dos cereais de inverno: diagnose, epidemiologia e controle. 2.ed. rev. atual. Lages: Ed. Graphel, 176 p. 2007.
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