A cultura do milho é uma importante commodity no agronegócio brasileiro. Um dos maiores custos da lavoura é a utilização de fertilizantes, seja a adubação de base ou a suplementação aérea, em especial o nitrogênio. Além do custo elevado, a eficiência da utilização desse nutriente pela planta é muito dependente da condição climática e do solo. O aproveitamento da adubação nitrogenada sob uma condição de aplicação que não seja a ótima é drasticamente afetado, podendo não suprir a exigência mínima de nitrogênio para atingir altos tetos produtivos.
Pensando em estratégias para melhorar a eficiência da adubação, visando ainda a melhor exploração radicular da planta no solo em água e nutrientes, podemos adotar tecnologias inovadoras e sustentáveis, como o uso de insumos biológicos. Existem microrganismos que atuam como promotores do desenvolvimento vegetal, auxiliando nos cultivos, garantido segurança, estabilidade e sustentabilidade na produção agrícola
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Dentre esses microrganismos está a bactéria Azospirillum brasilense, capaz de realizar a fixação de nitrogênio em gramíneas. Essa bactéria auxilia na disponibilidade do nutriente para o cultivo, além de atuar na produção de fitohormonios, que provem o desenvolvimento da planta, em especial as raízes. Outro nutriente chave para a produção de milho é o fosforo, participante da fotossíntese e do metabolismo energético da planta, que também pode ter a sua disponibilização otimizada por microrganismos. Os microrganismos que podem auxiliar na disponibilidade do nutriente para a planta, como o caso da Pseudomonas fluorescens, são capazes de atuar no fósforo aderido nos coloides do solo, tornando-o disponível para a planta absorver, via ação de ácidos orgânicos.
Fatores como estresses bióticos (causados pelo ataque de doenças e insetos) e abióticos (variações ambientais como frio, calor, restrição hídrica e salinidade) também podem influenciar no desenvolvimento do cultivo de milho, afetando diretamente a produtividade das áreas de produção.
Existem microrganismos que podem auxiliar a planta amenizando os efeitos desses estresses, como é o caso das bactérias do gênero Bacillus. Insumos biológicos à base dessas bactérias atuam no controle de doenças e podem auxiliar a planta na mitigação de alguns desses estresses bióticos e abióticos. Elas podem atuar no sistema radicular, protegendo através da produção de um biofilme bacteriano, minimizando as portas de entrada para patógenos e auxiliando na retenção de água no sistema radicular. Ainda, podem atuar produzindo compostos antibióticos de ação antifúngica, antibacteriana e nematicida. No metabolismo, pode fornecer para a planta metabolitos que auxiliam na produção de compostos para mitigar os estresses abióticos.
Existem diferentes formas de utilizar os insumos biológicos a campo, uma delas é via tratamento de sementes, realizando a aplicação no dia do plantio. Essa prática garante maior eficiência dos microrganismos, principalmente se tratando de organismos mais sensíveis a condições ambientais, como é o caso do Azospirillum brasilense e da Pseudomonas fluorescens.
Outra forma de posicionamento de insumos biológicos é a utilização de jato dirigido no sulco de plantio, técnica que possibilita otimização de processos, se adaptando e otimizando o manejo dos produtores no momento da semeadura.
Além disso, podemos realizar a aplicação aérea dos insumos biológicos. Para isso alguns cuidados são necessários, principalmente relacionados a calda de aplicação, condições ambientais e estádio fenológico da cultura de interesse. No momento de preparo da calda de aplicação, os microrganismos mais sensíveis, como o Azospirillum brasilense, devem ser utilizados sozinhos, com outros produtos biológicos ou com produtos nutricionais previamente testados, não possuindo compatibilidade com produtos químicos.
As condições ambientais interferem na sobrevivência dos microrganismos antes, durante e após a aplicação, assim como a associação deles com o sistema radicular, principalmente em inoculantes formulados com microrganismos de maior sensibilidade. A melhor condição ocorre em ambientes mais úmidos, com menor incidência de radiação UV e temperaturas amenas. Produtos à base de bactérias do gênero Bacillus geralmente possuem uma maior tolerância ao ambiente por possuírem a capacidade de produzir uma estrutura de resistência que a protege, o endósporo.
O estádio fenológico da cultura pode interferir na chegada do microrganismo no solo. É importante que microrganismos com ação no solo como é o caso do Azospirillum brasilense, Pseudomonas fluorescens e do Bacillus sp., consigam com a aplicação chegar o mais próximo possível do sistema radicular da cultura, para fazer a associação da forma mais rápida possível. Por isso, em caso de posicionamento desses microrganismos em aplicação aérea, esta deve ser feita nos estádios iniciais. É importante ressaltar que esses microrganismos também têm ação em parte aérea, portanto, é importante avaliar o objetivo da aplicação para melhor posicionamento.
Aplicar de forma aérea é mais suscetível a fatores de difícil controle, como o clima, destacando-se como forma alternativa de inoculação. Essa técnica pode entrar como um reforço, aumentando a carga de microrganismos benéficos para a cultura ou, ainda, como substitutiva em casos cuja inoculação via semente ou sulco se torna inviável.
A utilização de microrganismos benéficos traz muitos benefícios para a planta e para o meio ambiente. Os bioinsumos são produtos que agregam na produção, sendo ferramentas muito importantes para o cultivo do milho, trazendo estabilidade e sustentabilidade para o sistema de produção. Além disso, ele também auxilia no desenvolvimento e defesa da planta, possibilitando alcançar altos tetos produtivos.
Buscando conhecer a ação desses microrganismos a campo, durante a safra de milho 22/23, o time de Especialidades da 3tentos acompanhou uma área de geração de demanda em produtor no município de Cruz Alta/RS. A forma de inoculação foi realizada via tratamento de sementes na hora do plantio. Durante as avaliações, observou-se melhor desenvolvimento inicial das plantas, com posterior, maior retenção das folhas no terço inferior e aumento no tamanho de espigas e número de fileiras de grãos. O uso do manejo biológico 3tentos (Azospirillum brasilense, Pseudomonas fluorescens e Bacillus sp.) resultou em um incremento de 5,0% quando comparado com a testemunha.
A utilização de bioinsumos traz muitos benefícios para a planta e para o meio ambiente. São produtos que auxiliam no desenvolvimento da planta através da disponibilidade de nutrientes, produção de fitohormonios e na mitigação dos efeitos dos estresses bióticos e abióticos, possibilitando alcançar altos tetos produtivos no cultivo de milho, trazendo uma maior rentabilidade para o produtor associado com um manejo mais sustentável.