A expectativa para 2023 é que a área semeada com trigo no Rio Grande do Sul registre um aumento de aproximadamente 5%, segundo informações do primeiro levantamento de intenção de plantio da consultoria de agronegócio Safras & Mercado. A cultura do trigo tem constituído uma alternativa viável em muitas propriedades, contribuindo para a sustentabilidade do sistema de produção. No período de implantação do trigo, o monitoramento e acompanhamento do desenvolvimento da lavoura é importante para a identificação de fatores que podem interferir na produtividade da cultura e também para a tomada de decisão no tempo certo e de forma assertiva.
Dentre os fatores que interferem na definição do potencial produtivo, está o ataque de insetos-praga. Os pulgões estão entre as espécies mais causadoras de problemas na produtividade do trigo, visto que se reproduzem rapidamente e podem estar presentes em todas as estruturas da planta. Quando associado a transmissão e ocorrência de Vírus do Nanismo Amarelo da Cevada (VNAC) podem causar danos significativos no desempenho da lavoura, chegando reduzir a produtividade de grãos em média 60%, e em cultivares menos resistentes, cerca de 80%.
Espécies que ocorrem durante o desenvolvimento do trigo
Os pulgões ou afídeos são insetos sugadores, causadores de danos significativos nos cereais de inverno. As espécies mais presentes na cultura do trigo são Rhopalosiphum padi (pulgão-da-aveia), Sitobion avenae (pulgão-da-espiga), Schizaphis graminum (pulgão-verde-dos-cereais) e Metopolophium dirhodum (pulgão-da-folha). Cada espécie ataca determinado estádio fenológico em que a cultura se encontra e podem se alojar em diferentes locais da planta.
O pulgão-verde-dos-cereais e o pulgão-da-aveia podem iniciar seu aparecimento logo após a emergência da cultura, estando presentes no colmo, nas folhas mais inferiores e, esporadicamente, nas espigas. Sendo assim, apresentam maior relevância nos estádios iniciais do desenvolvimento da cultura. Já o pulgão-da-espiga aparece frequentemente a partir do emborrachamento, se instalando na espiga do trigo, mas pode aparecer também nas folhas juntamente com o pulgão-da-folha. Diferentemente dos demais pulgões, esses aparecem mais tardiamente, principalmente no período da primavera.
Condições que favorecem a ocorrência
O aumento da pressão de pulgões na lavoura é favorecido por temperaturas amenas e clima seco (Lau, 2019). Paralelo a isso, a ocorrência de temperaturas frias acaba impactando no ciclo de vida dos afídeos e reduzindo a sua taxa de multiplicação. Dessa forma, em condições adequadas, uma fêmea pode produzir 10 ninfas por dia, mostrando o potencial de rápida infestação da lavoura. Outra característica da ocorrência de pulgões em elevadas populações implica no surgimento de indivíduos alados, o que tende a facilitar a dispersão na lavoura, principalmente com a ocorrência de ventos.
Impactos na cultura do trigo
O pulgão atinge o trigo desde o início do estabelecimento da lavoura até o período de enchimento de grãos. Os danos causados podem ser diretos ou indiretos. Os efeitos diretos são decorrentes da sucção da seiva, afetando os grãos pela redução da dimensão e peso. Indiretamente, os pulgões, principalmente Rhopalosiphum padi, transferem o VNAC, transmitido através da saliva do afídeo de uma planta para outra.
Entre os sintomas mais visíveis causados pelo VNAC, destacam-se a redução no crescimento da cultura e a coloração amarela ou roxa na folha bandeira, podendo reduzir a produção de grãos em torno de 20%, entretanto, esse número pode ser crescente dependendo da variedade e condições ambientais. Pensando no pulgão-verde-dos-cereais e no pulgão-da-aveia, além dos danos diretos e indiretos provocados no trigo, eles apresentam saliva tóxica, podendo causar também morte de folhas e plântulas.
Monitoramento e estratégias de controle
Inicialmente, a estratégia de controle baseia-se no tratamento de sementes, principalmente com inseticidas do grupo dos neonicotinoides. Durante o estabelecimento da lavoura e o desenvolvimento da cultura, o monitoramento é fundamental para a observação da incidência e quantidade de insetos para recomendação de aplicação de inseticidas na parte aérea. A partir da emergência até o emborrachamento, o controle químico é indicado quando, através da contagem direta, for encontrado 10% das plantas infestadas com o inseto. Já durante o espigamento até o estádio de grão em massa, pode ser recomendada a entrada com inseticidas quando for encontrado uma média de 10 pulgões por espiga (Reunião da Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale, 2023).
Para o controle de pulgões via pulverização da parte aérea, os principais inseticidas disponíveis no mercado pertencem ao grupo químico dos neonicotinóides, piretróides, organofosforados e sulfoxaminas. Para uma recomendação assertiva e adequada da dosagem e qual produto utilizar para controlar as espécies de pulgões na lavoura é importante consultar um engenheiro agrônomo, pois cada grupo químico apresenta uma formulação e é indicado para determinado inseto alvo. Desse modo, é necessário obedecer a concentração indicada a ser aplicada e o momento da correta tomada de decisão para aplicação nas plantas.
Dentro do Manejo Integrado de Pragas (MIP) temos estratégias de controle biológico a serem empregadas por meio de inimigos naturais dessas espécies, com a finalidade de conter avanços expressivos das comunidades infestantes, em suma constituídos de insetos das famílias Coccinellidae, Dolichopodidae, Chrysopidae e Syrphidae, por fungos da ordem Entomophthorales. Formas especiais de controle do tipo parasitoides ocorrem com microhimenópteros das famílias Aphidiidae e Aphilinidae, que realizam a sua postura de ovos no interior dos pulgões, levando-os à morte.
Diante disso, pensando em manejo de pulgões no trigo, é fundamental realizar o monitoramento recorrente das lavouras, especialmente em condições climáticas que favorecem a ocorrência de pulgões. Através do acompanhamento, é possível obter uma assertividade maior no controle, já que esta é dependente da quantidade de insetos e dos diferentes estágios de desenvolvimento das plantas. Além disso, é recomendado buscar cultivares mais resistentes ao vírus transmitido pelo pulgão, bem como a realização do tratamento de sementes e, se necessário, a aplicação de inseticidas na parte aérea da planta.
Texto elaborado por Lidiane Bilibio Bonfada e Máicon Luiz Kilpp, membros da AGR Jr. Consultoria Agronômica, Empresa Júnior do curso de Agronomia da UFSM Campus Frederico Westphalen, sob a orientação da professora Dra. Gizelli Moiano de Paula.
Imagem de capa: Pedro Bonini
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