A semente representa o principal e mais importante insumo da agricultura, sendo indispensável no sistema produtivo, atuando no mercado agrícola como protagonista das inovações tecnológicas. Uma agricultura forte e competitiva não se mantém nos dias de hoje sem um eficiente arcabouço legal que assegure essa produção, sem o comprometimento com a qualidade das sementes produzidas.
A caracterização de uma semente de qualidade envolve diferentes componentes individuais, sendo eles relacionados aos aspectos fisiológicos, físicos, genéticos e sanitários. Em conjunto, esses aspectos vão lhe conferir alto desempenho agronômico, uma vez que a semente contém dentro de si o embrião, com potencial de crescer e se desenvolver em uma planta adulta.
O aspecto fisiológico das sementes está relacionado com a capacidade da semente em desempenhar funções vitais e de vigor de forma satisfatória. Isso influencia na uniformidade do estande inicial, na capacidade de desenvolvimento da planta a campo, na produtividade e, principalmente, no período de armazenamento, ou seja, na longevidade que a semente é capaz de atingir, sem comprometer seu potencial germinativo.
A qualidade física refere-se à ausência de materiais estranhos, inertes ou sementes de outras espécies ou cultivares. A ocorrência de danos mecânicos durante a colheita possui relação direta com os atributos físicos, podendo comprometer a sua qualidade, e até mesmo se tornar porta de entrada para patógenos e danificar a estrutura celular da semente e o seu desempenho.
Quando se trata de qualidade genética, as sementes devem apresentar pureza varietal, e representatividade do seu material genético, ou seja, não apresentar mistura de outras cultivares, além de expressar o seu máximo potencial de produtividade e precocidade.
Sementes com qualidade sanitária elevada, significa livres de pragas e doenças como vírus, fungos, nematoides e bactérias, ou quando a semente recebe tratamento químico, permitindo a redução de infestação por esses patógenos. Entretanto, a escolha de uma semente com alta sanidade favorece uma semeadura com maior segurança e estabelecimento inicial rápido e uniforme.
Todos estes fatores demonstram a importância do produtor rural conhecer a qualidade das sementes posicionadas em sua lavoura, evitando assim, a desuniformidade da emergência no estabelecimento da lavoura, possíveis falhas no estande e a redução na produtividade com a utilização de sementes de baixa qualidade, podendo ser necessário a realização da ressemeadura devido ao baixo desempenho no estabelecimento das plântulas.
Considerando a exigência do mercado consumidor perante o uso de sementes com qualidade superior, a gestão estratégica da qualidade de sementes torna-se ferramenta importante dentro da cadeia produtiva. O laboratório se destaca como principal fonte de informações detalhadas sobre o potencial de desempenho dos atributos das sementes, por meio de testes especializados e padronizados, auxiliando na identificação de problemas e suas possíveis causas.
Atualmente, existe uma gama de testes de qualidade que podem ser aplicados na avaliação das sementes em todas as etapas do processo produtivo, do campo de multiplicação à entrega do lote ao consumidor final. Entre os testes, podemos citar alguns exemplos como: tetrazólio, teste de germinação, envelhecimento acelerado, deterioração controlada, condutividade elétrica, índice de velocidade de germinação, comprimento de plântulas e raízes, teste de frio, teste à baixa temperatura e emergência em canteiro. Desses, somente o teste de germinação é realizado obrigatoriamente para a comercialização de sementes de grandes culturas, no qual é exigido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), um padrão mínimo, que no caso da cultura da soja é de 80%.
Outro teste amplamente utilizado que auxilia o produtor rural no momento da colheita é o teste de hipoclorito de sódio, que possibilita a avaliação do dano mecânico (ruptura do tegumento), um dos principais fatores limitantes para a produção de sementes de qualidade. O princípio do teste é a solução inchar rapidamente os tegumentos danificados (penetra sob o tegumento provocando o afastamento dos cotilédones). São utilizadas 2 amostras de 100 sementes aparentemente intactas, submersas na solução de hipoclorito de sódio 1% por 10 minutos, onde ocorrerá o intumescimento das sementes danificadas, faz-se a lavagem e contagem do número de sementes intumescidas, X em %. O tempo de realização do teste é muito importante, pois se as sementes ficarem expostas por um período superior, as que não possuem danos também intumescem.
Além do dano mecânico ser bastante prejudicial à qualidade física das sementes, outro fator que costuma ser o causador de maior impacto no período de finalização dos campos de produção, é a alta temperatura associada com a umidade relativa do ar, assim como as precipitações, favorecendo a deterioração por umidade. Não menos importante, temos também as possibilidades de associações do clima aos estresses nutricionais com relação aos ataques de insetos e microrganismos, ou seja, a semente começa a deteriorar ainda no campo. Diante disso, é de suma importância o acompanhamento do campo de produção de sementes, a fim de monitorar os atributos consideráveis das sementes e diminuir a sua deterioração, aumentando o potencial de armazenamento que é determinado pela qualidade fisiológica inicial das sementes colhidas.
Durante o armazenamento, a deterioração das sementes não pode ser evitada, todavia a velocidade do processo pode ser minimizada por meio de procedimentos adequados de produção, colheita, transporte, secagem, beneficiamento e armazenamento.
Finalmente, vale enfatizar que não é suficiente a produção de sementes de alta germinação, mas, para assegurar elevado potencial de armazenamento e, consequentemente, adequado desempenho na fase de estabelecimento em campo, o objetivo deve ser a obtenção de sementes de alto vigor e o armazenamento correto sob condições ambientais favoráveis à conservação das sementes