As Doenças de Final de Ciclo (DFCs) iniciam suas injúrias muito antes do final do ciclo. Esses patógenos se externalizam na parte final do ciclo, porém estão presentes muitos antes, necessitando de um controle antecipado, pois consequentemente diminuem o potencial produtivo sendo que algumas delas podem ocasionar perdas de até 100% (EMBRAPA, 2010). As condições climáticas são fatores que devem ser observados pois podem favorecer ou até desfavorecer esses patógenos. Para as doenças fitopatogênicas em geral, a proatividade e a prevenção é de suma importância, visto que após o estabelecimento seu controle se torna mais complicado.
Além de comprometer a produtividade, esses patógenos podem causar problemas nas culturas sucessoras. A propagação de uma cultura para a outra pode variar de acordo com a sua característica. Os biotróficos necessitam de um hospedeiro vivo para sua sobrevivência e normalmente são encontradas em plantas daninhas ou as denominadas plantas guaxas. Os fungos necrotróficos têm a capacidade de sobreviver em restos culturais, tendo em vista que seu hospedeiro não precisa estar vivo.
Podem ser citadas como exemplo de DFCs as seguintes doenças: Antracnose, Mancha Parda, Crestamento Foliar e Mancha Olho de Rã.
Antracnose
Causada pelo fungo Colletotrichum truncatum, em condições de prolongado molhamento foliar e temperatura entre 18 e 25°C, tem sua disseminação por meio de sementes e restos culturais infectados. Os primeiros sintomas da inoculação do patógeno ocorrem no estádio vegetativo (V1), com necrose dos cotilédones e posteriores infecções nas hastes e folhas. No estádio reprodutivo, o inóculo é transmitido para a flor, dificultando a fecundação e formação de grãos, podendo ainda, causar abortamento das vagens, ou transmitido para o legume, contaminando grãos em formação e ocasionando aberturas das vagens. A palhada pode favorecer a sobrevivência do fungo C. truncatum como micélio, devido a sua maior retenção de umidade, favorecendo a germinação dos esporos que servirão como fonte de inóculo primário na safra seguinte.
Mancha Parda
Também conhecida como Septoriose, é uma doença foliar causada pelo fungo Septoria glycines, o qual sobrevive em restos culturais, possui maior intensidade em regiões de alta umidade e temperatura acima de 25°C, os esporos disseminam-se facilmente através da água e do vento. Os primeiros sintomas são pequenas pontuações pardas nas folhas primárias, que evoluem formando manchas marrom-escura com halo amarelado e centros de contornos angulares. A doença poderá intensificar-se no estádio R5 (formação de vagens),levando a desfolha severa e maturação precoce. O fungo S. glycines é favorecido pelo reservatório de inóculo na palhada, a qual também proporciona um ambiente favorável ao seu desenvolvimento.
Crestamento Foliar
Causada por fungos do gênero Cercospora, cujo mais conhecido é o Cercospora kikuchii, também responsável pela mancha púrpura na semente de soja, é introduzida via sementes infectadas e restos culturais. Seus danos mais severos são em regiões chuvosas, de alta umidade e quentes, com temperatura entre 23 a 27°C. Indícios da doença aparecem em folhas, hastes, vagens e sementes. Os sintomas presentes nas folhas são pontuações escuras a castanho-avermelhadas, com bordas irregulares, as quais podem se expandir formando manchas escuras e causar crestamento e desfolha prematura. Em hastes, as manchas são de coloração vermelha, limitadas ao córtex. Já nas vagens, ocorre o aparecimento de pontuações vermelhas que poderão evoluir para manchas-avermelhadas.
Além disso, é por meio da vagem que o fungo atinge a semente e causa a mancha púrpura no tegumento, em condições severas sementes infectadas são menos vigorosas. Os fungos do gênero Cercospora são muito influenciados pela palhada, local onde sobrevivem durante a entressafra, devido a retenção da umidade proporcionar um clima favorável para produção e disseminação de esporos, além de protegê-los de fatores externos.
Mancha Olho de Rã
Doença foliar causada pelo fungo Cercospora sojina, é disseminada através de sementes infectadas, restos culturais e esporos levados pela água e pelo vento, desenvolve-se em condições de alta umidade, altas temperaturas e formação de orvalho, com danos iniciais no florescimento entre os estádios R1 e R3. Seus sintomas surgem em folhas, hastes, vagens e sementes. Os sintomas evoluem nas folhas jovens de pequenas pontuações encharcadas para manchas arredondadas, na face adaxial o centro das manchas possui cor castanho-clara e a margem castanho-avermelhada, enquanto que na face abaxial as manchas são acinzentadas devido a esporulação do fungo, podendo ocorrer desfolha precoce. Nas hastes apresenta lesões alongadas de cor acinzentada no centro e bordas castanho-avermelhado. Em vagens as lesões são circulares e de coloração castanho-escuro.
As sementes quando infectadas possuem manchas de coloração parda a cinza, podendo apresentar rachaduras. Como já mencionado, fungos do gênero Cercospora permanecem viáveis na palhada, graças a umidade no solo e redução da temperatura, favorecendo o início da infecção na safra seguinte.
Plantas daninhas como hospedeiras de DFCs
Algumas plantas daninhas podem atuar como hospedeiras de patógenos causadores de DFCs, possibilitando a permanência destes fora da safra de soja e causando riscos também para as culturas subsequentes, dado que quando sua presença é elevada, aumentam a pressão de inóculo nas áreas cultivadas. Dentre as plantas daninhas com capacidade de abrigar patógenos destacam-se: Buva (Conyza spp.), Caruru (Amaranthus spp.) e Picão-preto (Bidens pilosa) como as mais suscetíveis para servirem de hospedeiras de fungos de manchas foliares.
- Buva (Conyza spp.)
Espécie de plantas anuais e eretas, têm sua propagação por meio de sementes. Seu tecido foliar é capaz de abrigar esporos de fungos, como os causadores de Cercospora kikuchii e Septoria glycines, nisso, os esporos conseguem sobreviver durante o período de entressafra e, em condições ideais, disseminar-se para as demais culturas através
de esporulação ou vento.
Espécie de plantas anuais, herbáceas e eretas, com sua propagação via sementes, competem com as culturas por luz, água e nutrientes. Atua como hospedeiro alternativo, mantendo o inóculo ativo em áreas de monocultura, principalmente. Os fungos que mais sobrevivem no tecido dessa planta são: Phomopsis spp. - causadores de podridão seca da haste e da vagem - e Cercospora spp.
- Picão-preto (Bidens pilosa)
Espécie de plantas anuais e eretas, têm sua propagação via sementes, as quais, juntamente com as folhas e o caule servem de abrigo para os patógenos de Septoria glycines. A espécie é capaz de manter o inóculo ativo por longos períodos até que, em condições favoráveis, os esporos sejam liberados e espalhados para as demais culturas, infectando-as.
Controle
O controle dos patógenos deve ser preventivo e iniciar na implantação da lavoura, através de cultivares resistentes, sementes certificadas e seguem durante o ciclo da cultura. A rotação de culturas também é um forte aliado, pois quebra o ciclo do patógeno e evita que ela se propague. Atualmente o controle mais difundido é o químico, com a utilização de fungicidas que podem ou não ter associação com produtos biológicos. Para o controle químico são utilizados ingredientes ativos presentes nos grupos de Triazóis, Estrobilurinas e Carboxamidas.
O Mefentrifluconazol é um triazol pertencente à classe química dos isopropanol triazois. Seu efeito é sistêmico e dessa forma ele deve ser absorvido e translocado pela planta, atuando também nas folhas que serão emitidas pela planta. Sua principal ação é na biossíntese do ergosterol, que é um componente vital das membranas celulares dos fungos, levando à morte dos patógenos.
Pode ser usado para controlar doenças como o crestamento foliar e mancha parda.
O Fluxapiroxade faz parte do grupo das carboxamidas (SDHIs). Seu modo de ação é a inibição da enzima succinato desidrogenase, sendo a mesma fundamental para a respiração celular dos fungos. Ele oferece proteção de longo prazo, atuando de maneira preventiva, curativa e erradicante dependendo do fungo. É recomendado nas primeiras aplicações por sua ação preventiva, que evita a infecção do patógeno.
O Piraclostrobina compõe o grupo das estrobilurinas e possui uma ação translaminar, tendo movimento através das camadas da folha. Sua ação se dá por meio da interrupção do transporte de elétrons nas mitocôndrias das células dos fungos, inibindo a formação de ATP essencial nos processos metabólicos fúngicos.
Esses ativos podem ser utilizados em associação e atualmente existem produtos no mercado que possuem todos. A utilização de misturas pode aumentar o espectro de ação e a eficácia do fungicida. Porém um ponto a ser observado é a capacidade dos patógenos adquirir resistência a esses mecanismos, dessa forma a rotação dos mecanismos também deve ser considerada.
Texto escrito por Gabriel Knod e Eduarda Meneghello Gheller acadêmicos do curso de Agronomia da UFSM, campus Frederico Westphalen, membros do Programa de Educação Tutorial - PET Ciências Agrárias, sob acompanhamento do tutor, professor Dr. Claudir José Basso.
Referências
Imagem de capa: Maurício Meyer/Embrapa Soja/ Reprodução
CAPEBE. "Doenças no final do ciclo da soja (DFC): Quais são e como evitar?"
Disponível em: https://capebe.coop.br/doencas-no-final-do-ciclo-da-soja-dfc-quais-sao-e-como-evitar/.
Acesso em: 01 nov. 2024.
ELEVAGRO. "Mecanismos de ação e grupos químicos de fungicidas." Disponível em: https://elevagro.com/blog/mecanismos-de-acao-e-grupos-quimicos-de-fungicidas/. Acesso em: 01 nov. 2024.
ELEVAGRO. "Fungicidas sistêmicos: benzimidazois, triazóis e estrobilurinas."Disponível em: https://elevagro.com/blog/fungicidas-sistemicos-benzimidazoitriazois-e-estrobilurinas/. s-Acesso em: 01 nov. 2024.
EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Soja. Tecnologias de produção de soja —região central do Brasil, 2011. Londrina: Embrapa Soja: Embrapa Cerrados: Embrapa
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https://revistacultivar.com.br/artigos/carboxamidas-no-manejo-da-ferrugem-asiatica. Acesso
em: 02 nov. 2024.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA (UFSM). "Doenças de final de ciclo na soja: quais são e como evitar." Disponível em: https://www.ufsm.br/pet/agronomia/2021/08/12/doencas-de-final-de-ciclo-na-soja-quais-saoe- como-evitar. Acesso em: 30 out. 2024.
3TENTOS. "Doenças de final de ciclo na soja: o que são e como preveni-las." Disponível
em: https://www.3tentos.com.br/triblog/post/120. Acesso em: 01 nov. 2024.