O Brasil se destaca o como maior produtor mundial de soja, sendo assim, diante da relevância dessa cultura, se faz necessário encontrar ferramentas de manejo que visem maximizar o potencial produtivo de maneira sustentável e, consequentemente, agregar na lucratividade do produtor rural.
O Manejo Integrado de Pragas (MIP) é uma forma de manter o teto produtivo da cultura de maneira eficiente e econômica, trazendo diversos benefícios à cadeia produtiva de forma sustentável.
O que é MIP?
O MIP é um conjunto de tecnologias utilizada harmonicamente, que permite a condução da lavoura por meio de práticas sustentáveis de controle de pragas. O MIP inclui o uso racional de inseticidas, somente aplicados quando forem necessários e economicamente viáveis.
O manejo integrado segue princípios básicos, como o monitoramento dos insetos para auxiliar na tomada de decisão do controle. Nesse caso, leva em consideração a densidade populacional, estágio em que a praga se encontra, potencial de dano, estádio fenológico da cultura e ciclo biológico da praga (TESTON, Renan et.al.,2020).
Métodos de monitoramento e amostragem
Existem dois métodos principais para o monitoramento de pragas: o pano de batida e as armadilhas de feromônio sexual.
O pano de batida é o mais utilizado na cultura da soja, devido a sua praticidade de uso, principalmente para identificação de pragas de parte aérea, permitindo saber a densidade populacional dos insetos no momento exato da amostragem. Para a realização desse método é recomendado que se caminhe em zigue zague na lavoura, com o objetivo de fazer uma amostragem representativa. Quanto a quantidade de amostragem a ser realizada na lavoura, vai variar de acordo com o tamanho da área, sendo recomendado o seguinte cálculo:
- De 1 a 9 hectares: 6 pontos de amostragem.
- De 10 a 29 hectares: 8 pontos de amostragem.
- De 30 a 99 hectares: 10 pontos de amostragem.
- Acima de 100 hectares: é necessário dividir a área em talhões e realizar o mesmo procedimento para as amostragens.
A utilização de armadilhas de feromônios sexuais permite estipular o pico populacional dos insetos-praga a partir da quantidade de adultos capturados. Esse método é bastante utilizado para estimar a população de lagartas que poderá acometer a cultura no decorrer do desenvolvimento da planta, pois não existe nível de ação para o controle de lepidópteros adultos, o que deixa os produtores em alerta.
Nível de controle das principais pragas
A utilização de um bom monitoramento possibilitará a realização de um controle mais assertivo das pragas que acometem a cultura da soja, utilizado os seguintes parâmetros como nível de controle:
Percevejo: é considerado uma das principais pragas da soja, pois além de afetar a produtividade e qualidade de sementes, causa danos indiretos que afetam a produtividade final de grãos. Dentre os percevejos de maior importância para a cultura da soja podemos destacar o percevejo verde-pequeno (Pyezodorus guildini), o percevejo marrom (Euschistus heros) e o percevejo verde (Nezara viridula). Para isso, é recomendado o controle quando for encontrado, em média, 2 percevejos por batida de pano em lavoura para produção de grão comercial, e 1 percevejo por batida de pano em lavouras para produção de sementes.
Lagartas: as lagartas desfolhadoras também causam reduções significativas na produtividade da soja, pelo fato de reduzirem a área foliar e, consequentemente, a capacidade fotossintética da planta. Diante disso, as que mais causam danos para os produtores rurais são a lagarta falsa-medideira (Chrysodeixis includens) e a lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis).
Teoricamente, o nível de controle para as lagartas falsa-medideira deve ser realizado quando for encontrado, em média, 20 lagartas/m de fileira, ou com menor número caso a desfolha for de 30% antes da floração e 15% tão logo apareçam as primeiras flores.
Ferramentas incorporadas ao MIP
Uma das ferramentas mais recentes associadas ao Manejo Integrado de Pragas são as cultivares de soja com biotecnologia Bt (Bacillus thuringiensis). Essa biotecnologia confere proteção às principais pragas desfolhadoras da cultura da soja, permitindo uma maior segurança na produção.
Dentre as principais lagartas controlada com esta biotecnologia estão: falsa-medideira (Chrysodeixis includens), a lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) e a lagarta helicoverpa (Helicoverpa armigera). Com a biotecnologia Bt, o controle químico dessas pragas é reduzido, havendo uma maior economia e qualidade dos alimentos produzidos.
Para evitar pragas resistentes à biotecnologia, são adotadas algumas práticas que permitem uma maior longevidade desta tecnologia. A principal prática é realizar a semeadura da área refúgio, onde neste local são implantadas cultivares que não possuem a tecnologia Bt.
Recomendações gerais
Sendo assim, fica clara a necessidade de realizar o monitoramento constante da lavoura, com o objetivo de identificar os insetos. Dessa forma, a tomada de decisão será mais assertiva, com base no nível de controle dessas pragas, visando a redução de custos e, consequentemente, uma maior lucratividade para o produtor rural.
Texto escrito por Diogo Moraes Verzegnazzi e Igor Streit, acadêmicos do curso de Agronomia da UFSM, campus Frederico Westphalen, membro do Programa de Educação Tutorial (PET) - Ciências Agrárias, sob acompanhamento do tutor, professor Dr. Claudir José Basso.
Imagem de capa: reprodução/Canal Rural
Referências
ÁVILA, C.B; et.al. “Manejo Integrado de Pragas (MIP) na Cultura da Soja”. Disponível em: . Acesso em: 03/11/2023.
AZEVEDO, Gabriel. “Conab prevê novo recorde na produção de soja na safra 2023/2024”. Disponível em: . Acesso em: 01/11/2023.
CARVALHO, L.C; et.al. “IMPORTÂNCIA ECONÔMICA E GENERALIDADES PARA O CONTROLE DA LAGARTA FALSA-MEDIDEIRA NA CULTURA DA SOJA”. Disponível em: . Acesso em: 04/11/2023.
FieldView. “Tecnologia Bt: conheça seus benefícios e como prolongar sua longevidade”. Disponível em: . Acesso em: 05/11/2023.
SENAR. “Grãos: Manejo Integrado de Pragas (MIP) em soja, milho e sorgo”. Disponível em: . Acesso em: 03/11/2023.
TESTON, Renan; et.al. “Monitoramento no manejo integrado de pragas em soja”. Disponível em: . Acesso em: 03/11/2023.