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O que observar na escolha de mix para cobertura de solo

Saiba quais fatores observar para escolher corretamente o mix de cobertura para a sua área

O uso do mix de cobertura visa a conservação e/ou melhoria do ambiente do solo e, consequentemente, a sustentabilidade do sistema de produção. Esse recurso tem sido apontado como uma estratégia para conseguir aproveitar ao máximo o potencial de cada planta. A escolha das espécies e a quantidade de cada planta deve ser pensada estrategicamente.


A diversificação de plantas de cobertura traz diversos benefícios, melhorando as propriedades químicas, físicas e biológicas do solo. Com o aumento da porosidade, ocorre melhor infiltração, retenção de água e aeração. Além disso, também há uma melhora na estrutura do solo, estimulando a formação de agregados estáveis, e uma contribuição na ciclagem de nutrientes e na biodiversidade do solo.


Diante da vasta opção de plantas para cobertura de solo que oferecem bons resultados, é um tanto difícil decidir em qual devemos investir. Para sermos assertivos na escolha, é necessário observar alguns fatores:


Ciclo das espécies utilizadas


No momento da escolha do mix de cobertura, deve ser levado em consideração o tempo disponível para que as plantas de cobertura se desenvolvam. Devemos avaliar desde o momento da retirada da cultura anterior até a semeadura da próxima cultura, pois o ciclo do mix deve ser compatível com essa “janela” entre a colheita da cultura anterior e a semeadura da próxima cultura comercial, a fim de que se tenha um bom desenvolvimento dessa cobertura.


Taxa de decomposição


Quando o objetivo da cobertura de solo é um aporte de nutrientes para a cultura em sucessão, é fundamental que a taxa de decomposição dessa cobertura seja sincronizada com as necessidades da cultura.

Nesse sentido, se a cultura comercial em sucessão exigir uma maior quantidade de nutrientes no estágio inicial de desenvolvimento, pode-se optar por mix de cobertura com uma taxa de decomposição mais acelerada, característica das leguminosas e do próprio nabo.


A proporção entre carbono e nitrogênio (relação C/N) afeta diretamente como os microrganismos agem e quais grupos são dominantes durante a decomposição. Isso influencia quanto tempo levará para a matéria se decompor completamente ou se humificar.


As leguminosas possuem uma relação C/N baixa e podem aportar uma quantidade significativa de N para a cultura em sucessão nessa fase inicial de desenvolvimento, isso se justifica principalmente no caso em que a cultura em sucessão a cobertura seja exigente e responsiva em nitrogênio, como é o caso do trigo e do milho.

Por outro lado, se a cultura principal não for responsiva a N e necessitar de um aporte gradual ao longo do seu ciclo, deve-se priorizar um mix de plantas de cobertura com decomposição mais lenta, como as gramíneas, que apresentam um conteúdo menor de nitrogênio na sua fitomassa, com relação C/N de 30 ou maior.


Acúmulo de nutrientes


Quando o objetivo do Mix é a cobertura de solo, deve-se priorizar por espécies que tenham uma boa produção de massa seca. Quanto maior a produção de matéria seca, maior é o acúmulo de nutrientes. Com exceção do potássio, que na planta não faz parte de nenhuma estrutura orgânica, os demais nutrientes precisam passar por um processo de mineralização para serem liberados.


Essa maior ou menor liberação desses nutrientes está muito relacionada à qualidade dessa matéria seca e das condições ambientais, já que todo esse processo é realizado por microrganismos que têm sua atividade muito dependente das condições ambientais.Por isso, a escolha das espécies desses mix de cobertura vai depender muito do objetivo que se busca em cada situação.


Vale lembrar que em média 30% da matéria seca observada na parte área da cobertura é raiz, ou seja, se uma cobertura de solo produziu 7 t/ha de massa seca na parte aérea, se tem em torno de 2,1 t/ha de raiz. Isso é importante na melhoria do ambiente solo, sob o ponto de vista físico, químico e biológico, em profundidade.


Não hospedeira de pragas e doenças


De grande relevância, esse fator também não pode ser deixado de lado no momento da escolha do mix, pois havendo histórico de problemas com pragas e doenças na área, principalmente doenças necrotróficas (que sobrevivem em restos culturais), deve ser levado em consideração a escolha de espécies não hospedeiras, a fim de quebrar o ciclo de desenvolvimento da doença e diminuir os problemas com infestações futuras.


Manejo

 

O manejo das plantas de cobertura consiste em interromper seu desenvolvimento para que seus resíduos formem uma camada de palha na superfície do solo, sendo essa manutenção da palha na superfície, uma das premissas básicas do sistema plantio direto.


O manejo da cobertura de solo pode ser feito por diversos métodos, como a dessecação química, rolo-faca e roçada. Em áreas com alta infestação de plantas indesejáveis de Azevém no meio da Aveia Preta, deve-se dar preferência ao manejo químico, já que o rolo-faca não resolve o problema do Azevém, permitindo assim que a semeadura da próxima cultura seja realizada no “limpo”.

A dessecação é mais adequada quando se deseja interromper rapidamente o crescimento das plantas de cobertura. É útil quando se precisa ganhar tempo para a cultura principal, pois as plantas dessecadas podem ser deixadas em pé ou tombadas para secar e se decompor lentamente sobre o solo.


O rolo-faca é recomendado quando se deseja triturar as plantas de cobertura dessecadas, para acelerar sua decomposição e incorporação ao solo. Esse método facilita sua decomposição e a formação de uma cobertura morta sobre o solo. A roçada é preferível quando se busca uma opção mais simples e de baixo custo, especialmente em áreas menores ou onde o acesso a equipamentos é limitado, promovendo uma rápida decomposição e incorporação ao solo.


Como visto anteriormente, há diversos métodos de manejo, sendo que cada espécie de planta tem uma responsividade diferente. Vale ressaltar que cada método tem vantagens e deve ser escolhido com base nas condições locais, nas necessidades específicas do sistema agrícola e na disponibilidade de recursos.


Supressão de plantas daninhas e alelopatia


Áreas com presença de altas populações de plantas daninhas merecem uma atenção maior no momento da escolha das plantas de cobertura. A cobertura de solo constitui uma importante ferramenta que auxilia na redução da população das plantas invasoras. Nesses casos é importante que as plantas de cobertura tenham um crescimento mais acentuado em um menor espaço de tempo, formando assim uma barreira física que irá prejudicar a emergência da grande maioria das espécies de plantas daninhas.


Além disso, algumas plantas ainda apresentam alelopatia, que é efeito ocasionados nas plantas pela ação de compostos químicos liberados por outras no ambiente, sendo assim, podem contribuir com a redução nas taxas de emergência das daninhas.

Como vimos, a escolha correta do mix de cobertura depende de vários fatores. Ao implementar essas práticas de manejo, é possível otimizar o ciclo das espécies utilizadas no mix de cobertura e maximizar seus benefícios para o sistema agrícola, incluindo a melhoria da fertilidade do solo, a redução da erosão, o controle de ervas daninhas e a promoção da biodiversidade.


Por isso, cada fator deve ser analisados rigorosamente para que os resultados gerados pela implantação do mix sejam como o esperado ou até mesmo superem as expectativas, gerando assim inúmeros benefícios, tanto para o solo, quanto para a cultura sucessora,contribuindo com o aumento da produtividade da lavoura.


Por: Ricardo Carlos Remos e Uéslen Barth acadêmicos do curso de Agronomia da UFSM, campus Frederico Westphalen, membros do Programa de Educação Tutorial – PET Ciências Agrárias, sob acompanhamento do tutor, professor Dr. Claudir José Basso.




REFERÊNCIAS


ALVARENGA, Ramon Costa; CABEZAS, Waldo Alejandro Lara; CRUZ, .José Carlos; SANTANA, Derli Prudente. Plantas de cobertura de solo para sistema plantio direto. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v. 22, n. 208, p. 25-36, jan. 2001. Disponível em: . Acesso em: 26 fev. 2024.

CALEGARI, A. Perspectivas e estratégias para a sustentabilidade e o aumento da biodiversidade dos sistemas agrícolas com o uso de adubos verdes. In: LIMA FILHO, O. F. de; AMBROSANO, E. J.; ROSSI, F.; CARLOS, J. A. D. (Ed.). Adubação verde e plantas de cobertura no Brasil: fundamentos e prática. Brasília, DF: Embrapa, 2014. v. 1, Cap. 1, p. 21-36. Disponível em: :<https://www.researchgate.net/publication/341977467_Perspectivas_e_estrategias_para_a_sustentabilidade_e_o_aumento_da_biodiversidade_dos_sistemas_agricolas_com_o_uso_de_adubos_verdes_Ademir_Calegari_In_LIMA_FILHO_O_F_de_AMBROSANO_E_J_ROSSI_F_CARLOS_J_A>. Acesso em: 26 fev. 2024.

CALEGARI, Ademir; SANTINI, Paula. “Mix de plantas de cobertura”. Disponível em: <https://guycarvalho.com.br/noticia/cafe/mix-de-plantas-de-cobertura>. Acesso em: 28 fev. 2024.

LAMAS, Fernando Mendes. “Plantas de cobertura: O que é isto?”. Disponível em: <https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/28512796/artigo---plantas-de-cobertura-o-que-e-isto>. Acesso em: 28 fev. 2024.




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