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A influência da temperatura da água no preparo de calda com Mancozebe

Entenda quais os efeitos da variação da temperatura da água para o preparo de calda com Mancozebe no controle da ferrugem-asiática da soja

A expressão do potencial produtivo da soja tem crescido linearmente nos últimos anos. No entanto, existem problemas fitossanitários que podem comprometer em até 90% da produtividade, como a ferrugem-asiática (Phakopsora pachyrhizi) (Sinclair; Hartmann, 1999).


De acordo com Garcés Fiallos (2011), um dos métodos mais relevantes para o controle da doença é através do uso de fungicidas, minimizando o dano e os prejuízos aos agricultores. Conforme Freitas et al. (2016), o melhor controle de ferrugem-asiática foi obtido quando foi misturado três grupos químicos de fungicidas em quatro aplicações, associado ao mancozebe. Este é um fungicida multissítio que pode ajudar a retardar a resistência dos fungos e aumentar a eficiência de fungicidas sítio-especifico, explica Camargos (2017).


É importante ressaltar que o mancozebe é um composto instável em água e pode ser decomposto pela interação de fatores ambientais, como a variação da temperatura em calda. Além disso, também é possível que haja mudanças nas características físico-químicas da calda e na qualidade da pulverização, afirma Scariot (2016).


Entretanto, se desconhece a magnitude e a interação da temperatura da calda com os componentes nela presentes (CUNHA et al., 2010). De acordo com Araújo (2006), a água é o diluente mais utilizado nas aplicações de produtos fitossanitários, e sua condição no arranjo da calda tem sido muito debatida.


Conforme Reis e Casa (2007), a eficácia do controle químico está interligada com a tecnologia de aplicação, com o momento ou critério para iniciar a aplicação do fungicida e com a qualidade da pulverização.


Para os fungicidas com dificuldades de estabilizar, existem duas formas de aumentar a solubilidade de um solvente: através da agitação intensa com tenso-ativos ou do aquecimento. O primeiro ponto já é executado por quem trabalha com estes produtos, mas o segundo ainda não.


Assim, o objetivo do estudo foi verificar se a variação da temperatura da água para no preparo da calda com mancozebe (Unizeb Gold® WG) exerce algum efeito benéfico ou maléfico na elaboração da calda e na eficácia de controle da ferrugem da soja.
O preparo dos tratamentos de calda para a variação de temperatura da água foi realizado diretamente no campo para evitar oscilações de temperatura. Foram testadas 5 diferentes temperaturas: 10, 20, 30, 40 e 50 ºC.


Figura 1– Aferição da temperatura da água antes da preparação da calda com mancozebe WG

O aquecimento pode promover uma diminuição das forças de coesão e, consequentemente, reduzir a tensão superficial da água. Sundaram (1987) explica que a menor tensão superficial da água pode auxiliar na solubilização de solutos muito complexos e em altas doses, como o mancozebe. Assim, de acordo com Hansen (2007), com a elevação de temperatura, pode-se aumentar a quantidade solubilizada de um soluto e melhorar a ação dos solventes.


No entanto, foi possível observar alguns limites para esta técnica com o mancozebe. De todas as temperaturas estudadas, conforme as Figuras 2 e 3, os limites 10°C e 50°C apresentaram mais problemas para a performance de controle da ferrugem e na produtividade, respectivamente. O tratamento com 20°C foi o segundo mais produtivo, destacando-se do de 40°C. Já o mais produtivo foi quando o mancozebe foi misturado à água a 30°C, se destacando de todos os demais. Portanto, esta temperatura de calda parece ter causado menos problemas de estabilidade e performance na mistura de água mais a formulação de mancozebe.
Para Vidal (2014), a influência da temperatura sobre a absorção da planta é pequena, sendo que aumentos acima de um máximo, em vez de acelerar, acabam retardando a absorção. Acredita-se que o efeito inibidor de altas temperatura prende-se à desnaturação de enzimas e proteínas, que se refletirá na absorção.


Dessa forma, a diminuição da temperatura retardará os processos de difusão livre, bem como as reações bioquímicas que interveem na absorção ativa, afirma Rodrigues (2003). Já as temperaturas intermediárias (20°C, 30°C e 40°C) não diferiram estatisticamente nos níveis de controle, apesar da variação dos dados brutos.


Segundo Azevedo (2006), temperaturas abaixo de 15 °C diminuem a atividade fisiológica das plantas, reduzindo a absorção de produtos que apresentam instabilidade física ou química, como é o caso dos sistêmicos ou de ação translaminar. A temperatura ideal deve estar abaixo de 32°C, para que ocorra uma maior translocação do produto na planta e consequentemente uma maior eficácia no momento de pulverização.


Assim, como destaca Vieira (2016), há estudos em herbicidas que relatam sobre a temperatura de calda, que pode influenciar praticamente todos os processos físico-químicos e seus componentes, consequentemente melhorando a eficácia do processo de aplicação. Conforme Vidal et al. (2014), a utilização dos herbicidas em temperatura ambiente tem grande impacto em diversos processos fisiológicos das plantas, influenciando reações bioquímicas, bem como penetração, absorção (difusão pela cutícula foliar) e translocação de herbicidas no floema. Desta forma, há um maior efeito nas plantas daninhas.

Figura 2 – Desfolha dos tratamentos com diferentes temperaturas de calda


Foi possível inferir que o fato da partícula de mancozebe ser um complexo metálico, pode promover a aglomeração das partículas devido a presença de cargas eletrostáticas. Em águas a baixas temperaturas, essas ligações têm dificuldade de serem rompidas, isso dificulta a dispersão da partícula de mancozebe. Do mesmo modo, em água com temperaturas mais elevadas, existem um movimento maior das moléculas do mancozebe no meio, o que proporciona maior colisão e, por consequência, maior possibilidade de aglomeração. Em ambos os casos, há formação de aglomerados do mancozebe na calda e isso diminui a área de contato do ativo e a cobertura folhar, o que vai ocasionar queda de eficácia do mancozebe.




(Fonte: Colla, F., 2020)


Esta técnica de aquecimento da água para facilitar a mistura com o mancozebe já vem sendo utilizada a campo na empresa Sementes Costa Beber. Neste caso, o tanque de água aquecida de 350 litros fica localizado acima dos tanques pré-mistura, mantendo a temperatura de 35 a 40°C. Quando esvaziado, é reabastecido de água e mantém a temperatura com um termostato elétrico.


No momento de realizar a pré-mistura, uma mangueira traz a água morna por gravidade até o tanque pré-mistura de 250 litros. Este tanque é utilizado apenas para realizar a mistura com o mancozebe.


Para a diluição do mancozebe são usados 80 kg por pré-mistura de 200 litros, diluindo aos poucos com a água morna (em torno de 30°C), em seguida é agitando até a diluição estar completa. Após a pré-mistura, a calda é transportada para o tanque e feitas as outras diluições. Depois de tudo enviado para o tanque, completa-se o tanque do PV 4730 JD de 3 mil litros com água a temperatura ambiente. Apenas a pré-mistura é feita com água aquecida.


Assim, conforme os estudos para confecção da calda apenas com mancozebe, a água a 30°C mostrou-se a melhor opção. As águas com temperaturas em torno de 10°C e em torno de 50°C foram prejudiciais ao controle da doença e a produtividade.
Mais estudos são necessários sobre temperatura de caldas, com a combinação de outros produtos em mistura no tanque.




(Imagem de capa: Reprodução)

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